O Conde de Monte Cristo - Cap. 20: O cemitério do Castelo de If Pág. 164 / 1080

O primeiro risco que Dantès corria era que o carcereiro, quando lhe fosse levar a refeição das sete horas, descobrisse a substituição operada. Felizmente, quer por misantropia, quer por cansaço, Dantès recebera muitas vezes o carcereiro deitado, e quando assim acontecia, habitualmente o homem depositava o pão e a sopa em cima da mesa e retirava-se sem lhe falar.

Mas desta vez o carcereiro poderia renunciar aos seus hábitos de mutismo, falar a Dantès e, vendo que este lhe não respondia, aproximar-se da cama e descobrir tudo.

Quando as sete horas da noite se aproximaram, as angústias de Dantès começaram realmente. Com uma das mãos apoiada no coração procurava conter-lhe as pulsações, enquanto com a outra enxugava o suor da testa, que lhe escorria ao longo das têmporas. De vez em quando, sentia arrepios percorrerem-lhe todo o corpo e apertarem-lhe o coração como num torno gelado.

Julgava então que ia morrer. Mas as horas passaram sem trazer qualquer movimento ao castelo e Dantès deduziu que escapara ao primeiro perigo. Era um bom augúrio. Finalmente, por volta da hora fixada pelo governador ouviram-se passos na escada e Edmond compreendeu que chegara o momento. Apelou para toda a sua coragem e conteve a respiração. Seria óptimo se conseguisse reter ao mesmo tempo as pulsações precipitadas das suas artérias.

Pararam à porta. Os passos eram de duas pessoas. Dantès adivinhou que eram os dois coveiros que o vinham buscar, e a dedução converteu-se em certeza quando ouviu o barulho que fazia a pousar a padiola.

A porta abriu-se e uma luz velada chegou aos olhos de Dantès.

Através da tela que o cobria viu duas sombras aproximarem-se da cama. Havia uma terceira à porta, de lanterna na mão. Cada um dos dois homens que se tinham aproximado da cama agarrou o saco por uma extremidade.

- Isto é que ele é ainda pesado para um velhote tão magro! - observou um deles, levantando-o pela cabeça.

- Dizem que cada ano acrescenta meia libra ao peso dos ossos comentou o outro, agarrando-o pelos pés.

- Já deste o nó? - perguntou o primeiro.

- Muito estúpido seria eu se nos carregasse com um peso inútil -respondeu o segundo. - Dá-lo-ei lá em baixo.

- Tens razão. Vamos lá então.

«A que nó se referiria ele?», perguntou-se Dantès.

Transportaram o pretenso morto da cama para a padiola. Edmond retesava-se para desempenhar melhor o seu papel de defunto.

Pousaram-no na padiola, e o cortejo, iluminado pelo homem da lanterna, que ia à frente, subiu a escada.

De súbito, o ar fresco e cortante da noite inundou-o. Dantès reconheceu o mistral. Foi uma sensação cheia ao mesmo tempo de delícias e angústias.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069