O Conde de Monte Cristo - Cap. 21: A Ilha de Tiboulen Pág. 169 / 1080

De súbito, pareceu-lhe que o céu, já de si tão escuro, se tornava ainda mais negro, que uma nuvem espessa, pesada, compacta, descia na sua direcção. Ao mesmo tempo sentiu uma dor violenta num joelho. A imaginação, com a sua incalculável velocidade, disse-lhe então que se tratava do choque de uma bala e que ia ouvir imediatamente a explosão do tiro de espingarda. Mas a explosão não soou. Dantès estendeu a mão e sentiu uma resistência, encolheu a outra perna e tocou em terra. Descobriu então qual era o objecto que tomara por uma nuvem.

A vinte passos de si erguia-se uma massa de rochedos estranhos, que se tomaria por uma lareira imensa petrificada no momento da sua mais ardente combustão: era a ilha de Tibouien.

Dantès levantou-se, deu alguns passos em frente e deitou-se, agradecendo a Deus, naquelas pontas de granito que lhe pareceram naquela altura mais macias do que jamais lhe parecera o leito mais macio.

Depois, apesar do vento, apesar da tempestade, apesar da chuva que principiava a cair, quebrado de fadiga como estava, adormeceu, mergulhou nesse sono delicioso do homem que tem o corpo entorpecido, mas cuja alma vela com a consciência de uma felicidade inesperada.

Uma hora depois, Dantès acordou ao som de um enorme trovão. A tempestade desencadeara-se no espaço e fustigava o ar com o seu chicote deslumbrante. De vez em quando, um relâmpago descia do céu como uma serpente de fogo e iluminava as vagas e as nuvens que rolavam ao encontro umas das outras como as vagas de um imenso caos.

Com o seu olho de marinheiro, Dantès não se enganara: abordara a primeira das duas ilhas, que era efectivamente a de Tibouien. Sabia-a escalvada, deserta e sem possibilidade de oferecer o mais pequeno asilo; mas quando a tempestade se acalmasse voltaria a fazer-se ao mar e alcançaria a nado a ilha Lemaire, também árida, mas mais ampla, e consequentemente mais hospitaleira.

Uma rocha inclinada ofereceu-lhe abrigo momentâneo. Dantès refugiou-se debaixo dela e quase imediatamente a tempestade rebentou em todo o seu furor.

Edmond sentia tremer a rocha sob a qual se abrigava. As vagas quebravam-se contra a base da gigantesca pirâmide e ricocheteavam até ele. Por mais em segurança que estivesse, encontrava-se no centro daquele ruído profundo, no meio daqueles deslumbramentos fulgurantes, dominado por uma espécie de vertigem. Afigurava-se-lhe que a ilha tremia debaixo dele e que, de um momento para o outro, como um navio ancorado, quebraria as amarras e seria arrastada para o meio do imenso turbilhão.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069