Por fim dirigiu-se para a porta, transpôs o limiar, perguntou se havia alguma habitação vaga e, apesar de estar ocupada, insistiu tanto em visitar a do quinto andar que o porteiro subiu e pediu, da parte de um estrangeiro, às pessoas que lá moravam, licença para mostrar as duas divisões que constituíam o andar. As pessoas que ocupavam o pequeno apartamento eram um rapaz e uma rapariga casados havia apenas oito dias.
Ao ver os dois jovens, Dantès soltou um profundo suspiro.
Nada recordava já a Dantès o apartamento do pai. O papel não era o mesmo e todos os velhos móveis, esses amigos de infância de Edmond, presentes na sua memória em todos os pormenores, tinham desaparecido. Só as paredes eram as mesmas. Dantès virou-se para o lado da cama, que ocupava o mesmo lugar da do antigo inquilino. A seu pesar, os olhos de Edmond encheram-se de lágrimas. Devia ter sido ali que o velho morrera chamando pelo filho.
Os dois jovens olhavam com espanto aquele homem de rosto severo, pelas faces do qual corriam duas grossas lágrimas sem que ele se importasse. Mas como toda a dor traz consigo a sua religião, os jovens não perguntaram nada ao desconhecido. Limitaram-se a recuar para o deixar chorar à vontade, e quando se retirou acompanharam-no e disseram-lhe que poderia voltar quando quisesse, pois a sua pobre casa lhe seria sempre hospitaleira.
Ao passar pelo andar de baixo, Edmond parou diante de outra porta e perguntou se continuava a morar ali o alfaiate Caderousse. Mas o porteiro respondeu-lhe que o homem a quem sereferia tivera maus negócios e possuía agora uma estalagenzinha na estrada de Bellegarde a Beaucaire.
Dantès desceu, perguntou a morada do proprietário da casa das Alamedas de Meilhan, dirigiu-se para lá, fez-se anunciar sob o nome de Lorde Wimore (o nome e o título inscritos no passaporte) e comprou-lhe o prédio por vinte e cinco mil francos. Eram, pelo menos, mais dez mil francos do que valia.
Mas se lhe tivessem pedido meio milhão, Dantès tê-lo-ia dado.
No mesmo dia, os inquilinos do quinto andar foram avisados pelo notário que lavrara a escritura de que o novo proprietário lhos dava a escolher um apartamento em todo o prédio, sem aumentar de forma alguma a renda, com a condição de lhe cederem os dois quartos que ocupavam.
Este acontecimento estranho ocupou durante mais de oito dias todos os frequentadores habituais das Alamedas de Meilhan e originou mil e uma conjecturas, nenhuma das quais exacta.