O Conde de Monte Cristo - Cap. 26: A Estalagem da Ponte do Gard Pág. 215 / 1080

E tirou o diamante da algibeira, abriu o estojo e fê-lo brilhar nos olhos deslumbrados de Caderousse.

- Anda ver, mulher! - disse o estalajadeiro, com voz rouca.

- Um diamante! - exclamou a Carconte, levantando-se e descendo com passo bastante firme a escada.

- Que diamante é esse?

- Não ouviste, mulher? - disse Caderousse. - É um diamante que o pequeno nos legou: ao pai, em primeiro lugar, e depois aos seus três amigos, Fernand, Danglars e eu, e a Mercédès, sua noiva. O diamante vale cinquenta mil francos.

- Oh, que linda jóia! - exclamou a mulher.

- Pertence-nos então a quinta parte dessa importância? - perguntou Caderousse.

- Pertence - respondeu o abade. - Mais a parte do pai de Dantès, que me julgo autorizado a repartir pelos quatro.

- E porquê pelos quatro? - perguntou a Carconte.

- Porque são os quatro amigos de Edmond.

- Os amigos não são aqueles que atraiçoam! - murmurou surdamente, por sua vez, a mulher.

- Claro, claro - acrescentou Caderousse. - Era exactamente o que eu dizia. É quase uma profanação, quase um sacrilégio, recompensar a traição, o crime talvez.

- Vocês assim querem... - redarguiu tranquilamente o abade, voltando a guardar o diamante na algibeira da sotaina. – Agora dêem-me as moradas dos amigos de Edmond, a fim de poder executar as suas últimas vontades.

O suor corria em grandes gotas pela testa de Caderousse. Viu o abade levantar-se e dirigir-se para a porta, como que para deitar uma olhadela ao cavalo, e voltar.

Caderousse e a mulher entreolhavam-se com expressão indizível.

- O diamante seria inteirinho para nós - disse Caderousse.

- Achas - respondeu a mulher.

- Um padre não viria aqui para nos enganar.

- Faz como quiseres - disse a mulher. - Quanto a mim, não me meto nisso.

E retomou o caminho da escada, sempre tiritando. Batia os dentes, apesar do calor escaldante que fazia.

No último degrau parou um instante.

- Pensa bem, Gaspard! - aconselhou ao marido.

- Estou decidido! - respondeu Caderousse.

A Carconte reentrou no quarto suspirando. Ouviu-se o soalho ranger-lhe debaixo dos pés até chegar à poltrona, onde se sentou pesadamente.

- Está decidido a quê? - indagou o abade.

- A dizer-lhe tudo - respondeu o estalajadeiro.

- Na verdade, parece-me que é o melhor que tem a fazer - concordou o padre. - Não porque me interesse saber as coisas que me queria esconder; mas enfim, se puder ajudar-me a distribuir os legados de acordo com os desejos do testador, será melhor.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069