O Conde de Monte Cristo - Cap. 34: Aparição Pág. 311 / 1080

Com efeito, passado um instante, apareceu um homem que saiu gradualmente da sombra à medida que subia a escada, cuja abertura, situada defronte de Franz, era iluminada pelo luar, mas cujos degraus desapareciam nas trevas à medida que se desciam.

Poderia ser um turista como ele que preterisse a meditação solitária à tagarelice sem sentido dos seus guias, e portanto a sua aparição nada ter de surpreendente; mas a hesitação com que subiu os últimos degraus e a forma como, chegado à plataforma, parou e pareceu escutar, denotavam com evidência que estava ali com um fim especial e esperava alguém.

Num gesto instintivo, Franz escondeu-se o mais que pôde atrás da coluna. A dez pés do pavimento onde ambos se encontravam a abóbada estava danificada e uma abertura redonda, semelhante à de um poço, permitia ver o céu todo constelado de estrelas.

À roda da abertura, que talvez desse havia já centenas de anos passagem aos raios do luar, cresciam silvas cujas frágeis folhas verdes se recortavam e salientavam, com vigor no azul baço do firmamento, enquanto grandes cipós e pujantes rebentos de hera pendiam daquele terraço superior e se agitavam debaixo da abóbada como cordas flutuantes.

A personagem cuja chegada misteriosa atraíra a atenção de Franz encontrava-se colocada numa meia-luz que lhe não permitia distinguir-lhe as feições, mas que mesmo assim não era suficientemente escura para o impedir de lhe examinar em pormenor a indumentária. O sujeito estava envolto numa grande capa escura da qual um dos panos, atirado por cima do ombro esquerdo, lhe ocultava a parte inferior da cara, enquanto o chapéu de abas largas lhe cobria a parte superior. Apenas a extremidade da sua indumentária era iluminada pela luz oblíqua que passava pela abertura, o que permitia divisar umas calças pretas que caiam elegantemente sobre umas botas de verniz. Aquele homem pertencia, evidentemente, senão à aristocracia, pelo menos à alta sociedade.

Estava ali havia alguns minutos e começava a dar visíveis sinais de impaciência quando se ouviu um leve ruído no terraço superior.

No mesmo instante, uma sombra interceptou a luz, um homem apareceu na abertura, mergulhou o olhar penetrante nas trevas e viu o homem da capa. Agarrou imediatamente um punhado de cipós pendentes e de hera flutuante, deixou-se escorregar e, chegado a três ou quatro pés do chão, saltou ligeiramente para terra. O recém-chegado envergava um traje completo de habitante do Trastevere.

- Desculpe, Excelência, tê-lo feito esperar - disse em dialecto romano. - Aliás, atrasei-me apenas alguns minutos.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069