O Conde de Monte Cristo - Cap. 39: Os convivas Pág. 377 / 1080

O que faziam ali aqueles tecidos não sabemos dizer; esperavam, recreando os olhos, um destino que o seu próprio proprietário desconhecia, e enquanto esperavam iluminavam o apartamento com os seus reflexos sedosos e dourados.

No lugar mais em evidência via-se um piano de pau-rosa construído por Roller & Blanchet, um desses pianos à medida das nossas salas liliputianas, mas que apesar disso encerram uma orquestra no seu pequeno e sonoro arcaboiço e gemem sob o peso das obras-primas de Beethoven, Weber, Mozart, Haydn, Grétry e Porpora.

Depois, por toda a parte, ao longo das paredes, por cima das portas e no tecto, espadas, punhais, adagas, maças, machados e armaduras completas, douradas, marchetadas e embutidas; herbários, blocos de minerais e aves empalhadas que abriam para um voo imóvel as asas cor de fogo e o bico que nunca fechavam. Escusado será dizer que aquela sala era a divisão predilecta de Albert.

Contudo, no dia do encontro, o jovem, em falo de meia cerimónia, estabeleceu o seu quartel-general na salinha do rés-do-chão. Ali, em cima de uma mesa rodeada à distancia por um divã largo e fofo, encontravam-se todos os tabacos conhecidos, desde o tabaco louro de Sampetersburgo até ao tabaco negro do Sinai, passando pelo marilândia, pelo porto-rico e pelo latakieh, os quais resplandeciam em boiões de faiança craquelée, como preferem os Holandeses. Ao lado deles, em caixas de madeira aromática, alinhavam-se por ordem de tamanho e qualidade os puros, os regalas, os havanos e os manilas; finalmente, num armário aberto, uma colecção de cachimbos alemães, de chibuques de pipo de âmbar e ornados de coral e de narguilés incrustados de ouro, com longos tubos de marroquim enrolados como serpentes esperavam o capricho ou a preferência dos fumadores. Albert presidira pessoalmente ao arranjo, ou antes à desordem simétrica que depois do café os convivas de um almoço moderno gostam de contemplar através do fumo que lhes sai da boca e sobe ao tecto em longas e caprichosas espirais.

Às dez horas menos um quarto entrou um criado, um pequeno groom de quinze anos que só falava inglês e se chamava John, único criado de Morcerf. Claro que nos dias comuns o cozinheiro do palácio estava à sua disposição, e nas grandes ocasiões o mandarete do conde também o estava.

O criado, que gozava de plena confiança do seu jovem amo, trazia na mão um maço de jornais, que depositou numa mesa, e uma porção de cartas, que entregou a, Albert.

Este deitou um olhar distraído às diversas missivas, escolheu duas de caligrafia elegante e sobrescritos perfumados, abriu-as e leu-as com certa atenção.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069