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Capítulo 51: Píramo e Tisbe

Página 498

- Querida Valentine - respondeu o rapaz -, está tão acima do meu amor que não ouso falar-lhe dele, e no entanto todas as vezes que a vejo necessito de lhe dizer que a adoro, a fim de o eco das minhas próprias palavras me acariciar ternamente o coração quando já a não vejo. Agora, agradeço os seus ralhos: são deliciosos porque me provam, não me atrevo a dizer que me esperava, mas sim que pensava em mim. Quer saber a causa do meu atraso e o motivo do meu disfarce; vou dizer-lhos e espero que os desculpe: arranjei outra profissão.

- Outra profissão?!... Que quer dizer, Maximilien? Somos assim tão felizes para que me fale do que nos respeita gracejando?

- Oh, Deus me defenda de brincar com o que é a minha vida! - protestou o rapaz. - Mas farto de correr campos e escalar muros, seriamente assustado com a ideia que me sugeriu na outra tarde de que o seu pai ainda um dia me mandaria prender e julgar por ladrão, o que comprometeria a honra de todo o Exército francês, e não menos assustado com a possibilidade de alguém estranhar ver-me girar constantemente à volta daquele terreno, onde não há a mais pequena cidadela a sitiar ou o mais pequeno fortim a defender, um capitão de sipaios, fiz-me hortelão e adoptei o traje da minha profissão.

- Que loucura!

- Pelo contrário, acho a coisa mais sensata, creio, que fiz na minha vida, porque nos dá toda a segurança.

- Explique-se.

- Procurei o dono do terreno, e como o arrendamento com os antigos rendeiros terminara, aluguei-mo de novo. Toda aquela luzerna que vê me pertence, Valentine, e nada me impede de mandar construir uma cabana no meio daquelas forragens e de passar a viver a vinte passos de si. Oh, não posso conter a minha alegria e a minha felicidade! Parece-lhe, Valentine, que haverá dinheiro que pague tais coisas? É impossível, não é verdade? Pois bem, toda esta felicidade, toda esta ventura, toda esta alegria, pelas quais daria dez anos de vida, me custam... adivinhe quanto. Quinhentos francos por ano, pagáveis por trimestre. Assim, como vê, daqui em diante não tenho mais nada a temer. Estou no que é meu, posso encostar escadas de mão ao meu muro e olhar para cima dele e tenho o direito, sem receio de que uma patrulha me venha incomodar, de lhe dizer, Valentine, que a amo, desde que o seu orgulho se não sinta ferido por ouvir sair esta palavra da boca de um pobre jornaleiro de blusa e barrete.

Valentine soltou um gritinho de alegre surpresa. Depois, de repente, como se uma nuvem invejosa viesse de súbito encobrir o raio de sol que lhe iluminava o coração, disse tristemente:

- O pior, Maximilien, é que a partir daqui seremos demasiado livres e a nossa felicidade levar-nos-á a tentar Deus; abusaremos da nossa segurança e a nossa segurança perder-nos-á.

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Capa do livro O Conde de Monte Cristo
Páginas: 1080
Página atual: 498

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Marselha - A Chegada 1
O pai e o filho 8
Os Catalães 14
A Conspiração 23
O banquete de noivado 28
O substituto do Procurador Régio 38
O interrogatório 47
O Castelo de If 57
A festa de noivado 66
Os Cem Dias 89
O número 34 e o número 27 106
Um sábio italiano 120
A cela do abade 128
O Tesouro 143
O terceiro ataque 153
O cemitério do Castelo de If 162
A Ilha de Tiboulen 167
Os contrabandistas 178
A ilha de Monte-Cristo 185
Deslumbramento 192
O desconhecido 200
A Estalagem da Ponte do Gard 206
O relato 217
Os registos das prisões 228
Acasa Morrel 233
O 5 de Stembro 244
Itália - Simbad, o marinheiro 257
Despertar 278
Bandidos Romanos 283
Aparição 309
A Mazzolata 327
O Carnaval de Roma 340
As Catacumbas de São Sebastião 356
O encontro 369
Os convivas 375
O almoço 392
A apresentação 403
O Sr. Bertuccio 415
A Casa de Auteuil 419
A vendetta 425
A chuva de sangue 444
O crédito ilimitado 454
A parelha pigarça 464
Ideologia 474
Haydée 484
A família Morrel 488
Píramo e Tisbe 496
Toxicologia 505
Roberto, o diabo 519
A alta e a baixa 531
O major Cavalcanti 540
Andrea Cavalcanti 548
O campo de Luzerna 557
O Sr. Noirtier de Villefort 566
O testamento 573
O telégrafo 580
Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588
Os fantasmas 596
O jantar 604
O mendigo 613
Cena conjugal 620
Projetos de casamento 629
No gabinete do Procurador Régio 637
Um baile de Verão 647
As informações 653
O baile 661
O pão e o sal 668
A Sra. de Saint-Méran 672
A promessa 682
O jazigo da família Villefort 705
A ata da sessão 713
Os progressos de Cavalcanti filho 723
Haydée 732
Escrevem-nos de Janina 748
A limonada 762
A acusação 771
O quarto do padeiro reformado 776
O assalto 790
A mão de Deus 801
Beauchamp 806
A viagem 812
O julgamento 822
A provocação 834
O insulto 840
A Noite 848
O duelo 855
A mãe e o filho 865
O suicídio 871
Valentine 879
A confissão 885
O pai e a filha 895
O contrato 903
A estrada da Bélgica 912
A estalagem do sino e da garrafa 917
A lei 928
A aparição 937
Locusta 943
Valentine 948
Maximilien 953
A assinatura de Danglars 961
O Cemitério do Père-lachaise 970
A partilha 981
O covil dos leões 994
O juiz 1001
No tribunal 1009
O libelo acusatório 1014
Expiação 1021
A partida 1028
O passado 1039
Peppino 1049
A ementa de Luigi Vampa 1058
O Perdão 1064
O 5 de Outubro 1069