O Conde de Monte Cristo - Cap. 54: A alta e a baixa Pág. 533 / 1080

Ainda não tenho vinte e um anos e Eugénie só tem dezassete. Mas os dois meses expiram para a semana e é preciso ir para diante. Não pode imaginar, meu caro conde, como estou embaraçado... Ah, como o senhor é feliz por ser livre!

- Nesse caso, seja livre também. Quem lho impede, se me permite que lho pergunte?

- Oh, seria uma grande decepção para o meu pai se eu não casasse com Mademoiselle Danglars!

- Então case - respondeu o conde, com um singular movimento de ombros.

- Pois sim, mas para a minha mãe isso será mais do que decepção, será dor - redarguiu Morcerf.

- Então não case - tornou o conde.

- Verei, tentarei... Dar-me-á um conselho, não é verdade? E se lhe for possível tirar-me-á deste embaraço. Oh, para não desgostar a minha excelente mãe creio que seria capaz de me indispor com o conde!

Monte-Cristo virou-se; parecia comovido.

- Eh! - disse a Debray, sentado numa poltrona profunda na extremidade da sala e que segurava na mão direita um lápis e na esquerda uma agenda. - Que está a fazer, um esboço de Poussin?

- Eu? - respondeu o outro tranquilamente. - Oh, eu fazer um esboço?! Era o que faltava! Gosto demasiado de pintura para me meter nisso... Não, faço tudo o que há de mais oposto à pintura; faço contas.

- Contas?...

- Sim. Calculo... Isto diz-lhe indirectamente respeito, visconde. Calculo o que a Casa Danglars ganhou com a última alta do Haiti: de duzentos e seis, os fundos subiram para quatrocentos e nove em três dias, e o prudente banqueiro comprara muitos a duzentos e seis. Deve ter ganho trezentas mil libras.

- Esse não é o seu melhor golpe - disse Morcerf. - Não ganhou este ano um milhão com os títulos de Espanha?

- Ouça, meu caro - disse Lucien -, está aqui o Sr. conde de Monte-Cristo, que lhe dirá como os Italianos: Danaro e santia Metà della Metà. E é ainda muito. Por isso, quando me vêm com semelhantes histórias, encolho os ombros.

- Mas falava do Haiti? - perguntou Monte-Cristo.

- Oh, o Haiti é outra coisa! O Haiti é o écarté da agiotagem francesa. Pode-se gostar da bouillotte, adorar o whist, ser doido pelo boston, e no entanto renunciar a tudo isso. Mas volta-se sempre ao écarté. É um acepipe. Assim, o Sr. Danglars vendeu ontem a quatrocentos e nove e embolsou trezentos mil francos. Se tivesse esperado para hoje, os fundos desceriam novamente a duzentos e cinco, e em vez de ganhar trezentos mil francos, perderia vinte ou vinte e cinco mil.

- E por que motivo os fundos desceram de quatrocentos e nove para duzentos e cinco? - perguntou Monte-Cristo. - Peço-lhe desculpa, mas sou muito ignorante de todas essas intrigas de bolsa.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069