O Conde de Monte Cristo - Cap. 60: O telégrafo Pág. 582 / 1080

Seria portanto ridículo da minha parte pautar a minha conduta pelos seus caprichos. Continuarei a ter o maior respeito pelo Sr. Noirtier, suportarei sem me queixar o castigo pecuniário que me impõe; mas permanecerei firme na minha vontade e o mundo apreciará de que lado está a sã razão. Assim, casarei a minha filha com o barão Franz de Epinay, porque tal casamento é, na minha opinião, bom e respeitável e porque, em última análise, quero casar a minha filha com quem me aprouver.

- Pois quê - interveio o conde, cuja aprovação o procurador régio solicitara constantemente com o olhar -, pois quê, o Sr. Noirtier deserda, diz o senhor, Mademoiselle Valentine por ela casar com o Sr. Barão Franz de Epinay?!

- Exactamente, senhor, é essa a razão - respondeu Villefort, encolhendo os ombros.

- A razão visível, pelo menos - acrescentou a Sr.ª de Villefort.

- A razão real, minha senhora. Acredite no que lhe digo, conheço o meu pai.

- Concebe-se semelhante coisa? - perguntou ela. - Em quê, diga-me, o Sr. de Epinay pode desagradar mais do que qualquer outro ao Sr. Noirtier?

- De facto - disse o conde -, conheci o Sr. Franz de Epinay, o filho do general de Quesnel, não é verdade, aquele que foi feito barão de Epinay pelo rei Carlos X...

- Exactamente - confirmou Villefort.

- Pois achei-o um jovem encantador!

- Por isso, a oposição do Sr. Noirtier não passa de um pretexto, estou certa - declarou a Sr.ª de Villefort. - Osvelhos são tiranos nas suas afeições e o Sr. Noirtier não quer que a neta se case.

- E não conhecem a causa desse rancor? - perguntou Monte-Cristo.

- Meu Deus, quem a saberá?

- Alguma antipatia política, talvez...

- Efectivamente, o meu pai e o pai do Sr. de Epinay viveram naqueles tempos tempestuosos de que só assisti aos últimos dias - respondeu Villefort.

- O seu pai não era bonapartista? - inquiriu Monte-Cristo. - Creio lembrar-me de o senhor me ter dito qualquer coisa a tal respeito...

- Meu pai foi principalmente jacobino - respondeu Villefort levado pela emoção para além dos limites da prudência - e a toga de senador que Napoleão lhe lançou sobre os ombros apenas mascarou o antigo republicano, mas sem o modificar. Quando o meu pai conspirava, não era pelo imperador, era contra os Bourbons. Porque o meu pai tinha isto de terrível: nunca combatia pelas utopias irrealizáveis, mas sim pelas coisas possíveis, e aplicava ao êxito dessas coisas possíveis as terríveis teorias da Montanha, que não recuavam diante de nenhum meio.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069