O Conde de Monte Cristo - Cap. 63: O jantar Pág. 606 / 1080

- Mas como foi possível transportar esses dois peixes para Paris? - Oh, meu Deus, nada mais simples! Os dois peixes foram transportados cada um numa grande barrica, uma revestida decaniços e ervas do rio e a outra de juncos e plantas do lago, ambas embarcadas num furgão feito de propósito. Viveram assim o esturjão doze dias e a lampreia oito. E ambos viviam perfeitamente quando o meu cozinheiro tomou conta deles para fazer morrer um em leite e o outro em vinho. Não acredita, Sr. Danglars?

- Duvido, pelo menos - respondeu Danglars, sorrindo forçadamente.

- Baptistin! - chamou Monte-Cristo. - Mande trazer o outro esturjão e a outra lampreia, aqueles que vieram nas outras barricas e que ainda estão vivos.

Danglars arregalou os olhos de espanto; os restantes convivas bateram palmas.

Quatro criados trouxeram duas barricas guarnecidas de plantas marinhas, em cada uma das quais palpitava um peixe idêntico aos que estavam na mesa.

- Mas porquê dois de cada espécie? - perguntou Danglars.

- Porque um podia morrer - respondeu simplesmente Monte-Cristo.

- O senhor é realmente um homem prodigioso - reconheceu Danglars - e os filósofos escusam de dizer o contrário, pois é soberbo ser rico.

- E sobretudo ter ideias - acrescentou a Sr.ª Danglars.

- Oh, não me atribua a honra desta, minha senhora! É uma honra que pertence aos Romanos. Plínio conta que se mandavam de óstia para Roma, por meio de mudas de escravos, que os transportavam à cabeça, peixes da espécie do chamado mulus, e que, segundo a descrição que dele existe, é provavelmente a dourada. Era também um luxo conservá-lo vivo eum espectáculo deveras interessante vê-lo morrer, pois ao morrer mudava três ou quatro vezes de cor e, como um arco-íris que se evapora, passava por todos os cambiantes do prisma, depois do que o mandavam para as cozinhas. A sua agonia fazia parte do seu mérito. Se não o vissem vivo, não o queriam morto.

- É verdade - confirmou Debray. - Mas também de óstia a Roma são apenas sete ou oito léguas.

- De acordo - concordou Monte-Cristo. - Mas onde estaria o mérito de vivermos mil e oitocentos anos depois de Lúculo se não fizéssemos melhor do que ele? Os dois Cavalcanti arregalavam muito os olhos, mas tinham o bom senso de não dizer nada.

- Tudo isso é muito amável - declarou Château-Renaud. - No entanto, o que mais admiro, confesso, é a admirável prontidão com que o senhor é servido. Não é verdade, Sr. Conde, que só comprou esta casa há cinco ou seis dias?

- Sim, quando muito - respondeu Monte-Cristo.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069