Mas fique ciente que mesmo que tivesse conseguido ocultar os seus desregramentos ao seu marido, o que seria o abc da arte, porque a maior parte do tempo os maridos não querem ver, a senhora não passaria de uma pálida cópia do que faz metade das suas amigas da alta-roda. Mas comigo as coisas não se passam assim. Tenho visto e sempre
» Há dezasseis anos, mais ou menos, talvez me tivesse ocultado um pensamento, mas não um procedimento, uma acção, uma falta. Enquanto pelo seu lado se felicitava pela sua astúcia e julgava firmemente enganar-me, que acontecia? Graças à minha pretensa ignorância, desde o Sr. de Villefort até ao Sr. Debray, não há um dos seus amigos que não tenha tremido diante de mim. Não há um que não me tenha tratado como dono da casa, a minha única pretensão junto de si. Não há um, enfim, que se tenha atrevido a dizer-lhe de mim o que eu próprio lhe digo agora. Permito-lhe que me torne odioso, mas impedi-la-ei de me tornar ridículo, e sobretudo proíbo-a concretamente e acima de tudo de me arruinar.
Até ao momento em que o nome de Villefort fora pronunciado, a baronesa conservara-se aparentemente calma. Mas ao ouvir aquele nome, empalidecera e, erguendo-se como se fosse impelida por uma mola, estendera os braços como que para conjurar uma aparição e deu três passos na direcção do marido, como se quisesse arrancar-lhe o fim do segredo que ele não conhecia ou que talvez, por meio de qualquer cálculo odioso como eram quase sempre todos os cálculos de Danglars, ele não queria revelar inteiramente.
- O Sr. de Villefort? Que significa... que quer dizer?
- Quer dizer, minha senhora, que o Sr. de Nargonne, seu primeiro marido, não sendo filósofo nem banqueiro, ou talvez sendo um e outro, e vendo que não tinha nenhum partido a tirar de um procurador régio, morreu de desgosto ou de raiva por a encontrar grávida de seis meses, depois de uma ausência de nove. Sou brutal, e não só o sei como ainda me gabo disso. É um dos meus meios de êxito nas minhas operações comerciais.
»Por que motivo, em vez de matar se matou a si mesmo? Porque não tinha de salvar o seu dinheirinho. Mas eu devo-me ao meu dinheiro. O Sr. Debray, meu sócio, fez-me perder setecentos mil francos; pois que suporte a sua parte do prejuízo e continuaremos a negociar. De contrário, que declare falência perante mim por essas cento e setenta e cinco mil libras e faça o que fazem os falidos, desapareça. Meu Deus, é um rapaz encantador, bem sei, quando as suas notícias são exactas; mas quando o não são, há cinquenta no mundo que valem mais do que ele.