- O senhor é um mau calculador! - protestou Danglars, chamando em seu auxílio toda a filosofia e toda a dissimulação da aparência. - Neste momento o dinheiro já entrou nos meus cofres graças a outras especulações bem sucedidas. O sangue saído pela sangria voltou a entrar pela nutrição. Perdi uma batalha em Espanha e fui vencido em Trieste, mas a minha frota da índia apresou com certeza alguns galeões e os meus pioneiros do México devem ter descoberto alguma mina.
- Óptimo, óptimo! Mas a cicatriz ficará e ao primeiro prejuízo reabrirá...
- Não, porque me baseio em certezas - prosseguiu Danglars, com a loquacidade vulgar do charlatão que procura não deixar o seu crédito por mãos alheias. - Para me derrubar seria preciso que três governos caíssem.
- Bom... já se tem visto.
- Que a terra não produzisse.
- Lembre-se das sete vacas gordas e das sete vacas magras.
- Ou que o mar se abrisse, como no tempo do faraó. Mas há vários mares e os navios poderiam transformar-se em caravanas...
- Tanto melhor, mil vezes tanto melhor, caro Sr. Danglars - disse Monte-Cristo. - Verifico que me enganei e que o senhor pertence às fortunas de segunda ordem.
- Creio poder aspirar a essa honra - redarguiu Danglars, com um daqueles sorrisos estereotipados que causavam a Monte-Cristo o efeito de uma dessas luas pastosas com que os maus pintores pintalgam as suas ruínas. - Mas já que estamos a falar de negócios - acrescentou, encantado por encontrar pretexto para mudar de conversa - diga-me mais ou menos o que posso fazer pelo Sr. Cavalcanti.
- Mas dar-lhe dinheiro, se ele tiver um crédito sobre o senhor e se esse crédito lhe parecer bom.
- Excelente! Apresentou-se-me esta manhã com uma ordem de quarenta mil francos, pagável à vista sobre o senhor, assinada por Busoni e endossada a mim por si. Como calcula, entreguei-lhe imediatamente os quarenta mil francos.
Monte-Cristo fez um sinal de cabeça que indicava estar plenamente de acordo.
- Mas isto não é tudo - continuou Danglars. - Abriu ao filho um crédito sobre mim.
- Quanto, se não é indiscrição, dá ele ao rapaz? - Cinco mil francos por mês.
- Sessenta mil francos por ano. Já desconfiava disso - disse Monte-Cristo, encolhendo os ombros. - São uns forretas, esses Cavalcanti! Que quer ele que um rapaz faça com cinco mil francos por mês?
- Mas se o rapaz necessitar de mais alguns milhares de francos...