O Conde de Monte Cristo - Cap. 66: Projetos de casamento Pág. 632 / 1080

Pois bem, dos cinco milhões que constituem o seu activo real, o senhor acaba de perder à volta de dois, que diminuem em igual quantia a sua fortuna fictícia ou o seu crédito. Quer dizer, meu caro Sr. Danglars! Precisa de dinheiro? Quer que lho empreste?

- O senhor é um mau calculador! - protestou Danglars, chamando em seu auxílio toda a filosofia e toda a dissimulação da aparência. - Neste momento o dinheiro já entrou nos meus cofres graças a outras especulações bem sucedidas. O sangue saído pela sangria voltou a entrar pela nutrição. Perdi uma batalha em Espanha e fui vencido em Trieste, mas a minha frota da índia apresou com certeza alguns galeões e os meus pioneiros do México devem ter descoberto alguma mina.

- Óptimo, óptimo! Mas a cicatriz ficará e ao primeiro prejuízo reabrirá...

- Não, porque me baseio em certezas - prosseguiu Danglars, com a loquacidade vulgar do charlatão que procura não deixar o seu crédito por mãos alheias. - Para me derrubar seria preciso que três governos caíssem.

- Bom... já se tem visto.

- Que a terra não produzisse.

- Lembre-se das sete vacas gordas e das sete vacas magras.

- Ou que o mar se abrisse, como no tempo do faraó. Mas há vários mares e os navios poderiam transformar-se em caravanas...

- Tanto melhor, mil vezes tanto melhor, caro Sr. Danglars - disse Monte-Cristo. - Verifico que me enganei e que o senhor pertence às fortunas de segunda ordem.

- Creio poder aspirar a essa honra - redarguiu Danglars, com um daqueles sorrisos estereotipados que causavam a Monte-Cristo o efeito de uma dessas luas pastosas com que os maus pintores pintalgam as suas ruínas. - Mas já que estamos a falar de negócios - acrescentou, encantado por encontrar pretexto para mudar de conversa - diga-me mais ou menos o que posso fazer pelo Sr. Cavalcanti.

- Mas dar-lhe dinheiro, se ele tiver um crédito sobre o senhor e se esse crédito lhe parecer bom.

- Excelente! Apresentou-se-me esta manhã com uma ordem de quarenta mil francos, pagável à vista sobre o senhor, assinada por Busoni e endossada a mim por si. Como calcula, entreguei-lhe imediatamente os quarenta mil francos.

Monte-Cristo fez um sinal de cabeça que indicava estar plenamente de acordo.

- Mas isto não é tudo - continuou Danglars. - Abriu ao filho um crédito sobre mim.

- Quanto, se não é indiscrição, dá ele ao rapaz? - Cinco mil francos por mês.

- Sessenta mil francos por ano. Já desconfiava disso - disse Monte-Cristo, encolhendo os ombros. - São uns forretas, esses Cavalcanti! Que quer ele que um rapaz faça com cinco mil francos por mês?

- Mas se o rapaz necessitar de mais alguns milhares de francos...





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069