O Conde de Monte Cristo - Cap. 88: O insulto Pág. 842 / 1080

- Sim, sem dúvida, e essa razão - insistiu Albert - é que esse homem nos pode fazer mal, não é verdade?

Mercédès estremeceu e pousou no filho um olhar perscrutador.

- Diz-me coisas muito estranhas, Albert, e tem singulares prevenções, parece-me... Que lhe fez o conde? Ainda há três dias estava com ele na Normandia, e também ainda há três dias eu o considerava, assim como o senhor, o seu melhor amigo.

Um sorriso irónico aflorou aos lábios de Albert. Mercédès viu esse sorriso, e com o seu duplo instinto de mulher e de mãe adivinhou tudo. Mas prudente e forte, ocultou a sua perturbação e os seus receios.

Albert deixou morrer a conversa; passado um instante, a condessa reatou-a.

- Vinha perguntar-me como ia; respondo-lhe francamente, meu amigo, que me não sinto bem. Devia instalar-se aqui, Albert, e fazer-me companhia. Preciso de não estar só

- Minha mãe, estaria às suas ordens, e bem sabe com que prazer, se um assunto urgente e importante me não obrigasse a deixá-la durante toda a noite.

- Ah, muito bem! - respondeu Mercédès com um suspiro. - Vá, Albert, não quero torná-lo de modo algum escravo da sua piedade filial.

Albert simulou não compreender, cumprimentou a mãe e saiu.

Assim que o jovem fechou a porta, Mercédès mandou chamar um criado de confiança e ordenou-lhe que seguisse Albert para toda a parte onde fosse naquela noite e que viesse informá-la imediatamente do que visse.

Depois, tocou a chamar a criada de quarto e, por muito fraca que estivesse, vestiu-se para estar pronta para qualquer eventualidade.

A missão dada ao lacaio não era difícil de cumprir. Albert regressou aos seus aposentos e vestiu-se com uma espécie de esmero severo. Beauchamp chegou às oito horas menos dez minutos; falara com Château-Renaud, o qual prometera encontrar-se no seu lugar de orquestra antes de o pano subir.

Meteram-se ambos no cupé de Albert, o qual, não tendo qualquer motivo para ocultar aonde ia, disse em voz alta:

- À ópera! Na sua impaciência, chegou antes de o pano subir.

Château-Renaud encontrava-se no seu lugar. Prevenido de tudo por Beauchamp, Albert não tinha nenhuma explicação a dar-lhe.

O comportamento dos filhos que procuram vingar o pai era tão simples que Château-Renaud nem sequer tentou dissuadi-lo e limitou-se a renovar-lhe a certeza de que estava ao seu dispor.

Debray ainda não chegara mas Albert sabia que raramente faltava a um espectáculo da ópera. Albert vagueou pelo teatro até ao subir do pano. Esperava encontrar Monte-Cristo, quer no corredor, quer na escada.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069