- Sim, sem dúvida, e essa razão - insistiu Albert - é que esse homem nos pode fazer mal, não é verdade?
Mercédès estremeceu e pousou no filho um olhar perscrutador.
- Diz-me coisas muito estranhas, Albert, e tem singulares prevenções, parece-me... Que lhe fez o conde? Ainda há três dias estava com ele na Normandia, e também ainda há três dias eu o considerava, assim como o senhor, o seu melhor amigo.
Um sorriso irónico aflorou aos lábios de Albert. Mercédès viu esse sorriso, e com o seu duplo instinto de mulher e de mãe adivinhou tudo. Mas prudente e forte, ocultou a sua perturbação e os seus receios.
Albert deixou morrer a conversa; passado um instante, a condessa reatou-a.
- Vinha perguntar-me como ia; respondo-lhe francamente, meu amigo, que me não sinto bem. Devia instalar-se aqui, Albert, e fazer-me companhia. Preciso de não estar só
- Minha mãe, estaria às suas ordens, e bem sabe com que prazer, se um assunto urgente e importante me não obrigasse a deixá-la durante toda a noite.
- Ah, muito bem! - respondeu Mercédès com um suspiro. - Vá, Albert, não quero torná-lo de modo algum escravo da sua piedade filial.
Albert simulou não compreender, cumprimentou a mãe e saiu.
Assim que o jovem fechou a porta, Mercédès mandou chamar um criado de confiança e ordenou-lhe que seguisse Albert para toda a parte onde fosse naquela noite e que viesse informá-la imediatamente do que visse.
Depois, tocou a chamar a criada de quarto e, por muito fraca que estivesse, vestiu-se para estar pronta para qualquer eventualidade.
A missão dada ao lacaio não era difícil de cumprir. Albert regressou aos seus aposentos e vestiu-se com uma espécie de esmero severo. Beauchamp chegou às oito horas menos dez minutos; falara com Château-Renaud, o qual prometera encontrar-se no seu lugar de orquestra antes de o pano subir.
Meteram-se ambos no cupé de Albert, o qual, não tendo qualquer motivo para ocultar aonde ia, disse em voz alta:
- À ópera! Na sua impaciência, chegou antes de o pano subir.
Château-Renaud encontrava-se no seu lugar. Prevenido de tudo por Beauchamp, Albert não tinha nenhuma explicação a dar-lhe.
O comportamento dos filhos que procuram vingar o pai era tão simples que Château-Renaud nem sequer tentou dissuadi-lo e limitou-se a renovar-lhe a certeza de que estava ao seu dispor.
Debray ainda não chegara mas Albert sabia que raramente faltava a um espectáculo da ópera. Albert vagueou pelo teatro até ao subir do pano. Esperava encontrar Monte-Cristo, quer no corredor, quer na escada.