O Conde de Monte Cristo - Cap. 12: Pai e Filho Pág. 87 / 1080

- Claro - concordou Noirtier, olhando despreocupadamente à sua volta. - Claro, se esse homem não estivesse precavido, mas está. E - acrescentou sorrindo - vai mudar de cara e de traje.

Após estas palavras, levantou-se, tirou a sobrecasaca e a gravata, dirigiu-se para uma mesa na qual estavam preparadas todas as peças do necessário à toilette do filho, pegou numa navalha de barba, ensaboou a cara e com a mão perfeitamente firme cortou as suíças comprometedoras que davam à Polícia uma pista tão preciosa. Villefort assistia a tudo com um terror que não era isento de admiração.

Cortadas as suíças, Noirtier deu outro arranjo ao cabelo; pôs, em vez da gravata preta, uma gravata de cor que se via à superfície de uma mala aberta; envergou, em vez da sobrecasacaazul abotoada, uma sobrecasaca de Villefort, castanha e ampla; experimentou diante do espelho o chapéu de abas reviradas do filho, pareceu satisfeito com a maneira como lhe ficava e, deixando a bengala de bambu no canto da chaminé onde alargara, fez silvar na mão nervosa um pingalinzinho com o qual o elegante substituto dava aos seus passos a desenvoltura que era uma dassuas principais qualidades.

- Pronto! disse virando-se para o filho, estupefacto, quando esta espécie de metamorfose à vista se consumou. - Pronto! Achas que a Polícia me reconhecerá agora?

- Não, meu pai - balbuciou Villefort. - Pelo menos assim o espero.

- Agora, meu caro Gérard - continuou Noirtier -, recorro à tua prudência para fazer desaparecer todos os objectos que deixo à tua guarda.

- Oh, esteja tranquilo, meu pai! - respondeu Villefort

- Sim, sim! E agora creio que tens razão e que podes, com efeito, ter-me salvado a vida. Mas descansa que te retribuirei o favor proximamente.

Villefort abanou a cabeça.

- Não acreditas?

- Espero, pelo menos, que se engane.

- Tornarás a ver o rei?

- Talvez.

- Queres passar a seus olhos por um profeta?

- Os profetas da desgraça são mal vistos na corte, meu pai.

- Pois sim, mas mais dia menos dias far-lhes-ão justiça. E na hipótese de segunda restauração passarás por um grande homem.

- Bom, que devo dizer ao rei?

- Diz-lhe isto: «Sire, enganam-no acerca das disposições da França, da opinião das cidades e do espírito do Exército. Aquele que chamam em Paris o papão da Córsega, a quem chamam ainda o usurpador em Nevers, chama-se já Bonaparte em Lião e imperador em Crenoble. Julga-o acossado, perseguido, em fuga; ele avança com a rapidez da águia que é o seu símbolo. Os soldados que julga mortos de fome, esmagados de fadiga, prontos a desertar, aumentam como os átomos de neve à volta da bola que se precipita.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069