O Conde de Monte Cristo - Cap. 92: O suicídio Pág. 873 / 1080

Monte-Cristo levou Bertuccio para o seu gabinete, escreveu a carta que vimos e entregou-a ao intendente.

- Vá depressa. A propósito, mande prevenir Haydée de que já voltei.

- Aqui estou - anunciou-se a jovem, que descera ao ouvir o ruído da carruagem e cujo rosto estava radiante de alegria por ver o conde são e salvo.

Bertuccio saiu.

Haydée experimentou nos primeiros instantes daquele regresso esperado por ela com tanta impaciência todos os transportes de uma filha ao rever o pai querido e todos os delírios de uma amante ao rever o amante adorado.

Claro que, por ser menos expansiva, a alegria de Monte-Cristo não era mais pequena. Para os corações que sofreram longamente, a alegria é como o orvalho para as terras ressequidas pelo sol. Coração e terra absorvem essa chuva benfazeja que cai sobre eles e nada aparece de fora. Havia alguns dias que Monte-Cristo descobrira uma coisa em que há muito tempo não ousava acreditar: que existiam duas Mercédès no mundo e que ainda poderia ser feliz.

O seu olhar ardente de felicidade mergulhava com avidez nos olhos húmidos de Haydée quando de súbito a porta se abriu. O conde franziu o sobrolho.

- O Sr. de Morcerf! - anunciou Baptistin, como se este nome encerrasse a sua desculpa.

Com efeito, o rosto do conde desanuviou-se.

- Qual, o visconde ou o conde? - perguntou.

- O conde.

- Meu Deus! - exclamou Haydée. - Então isto ainda não acabou?

- Não sei se acabou, minha filha bem-amada – respondeu Monte-Cristo, pegando nas mãos da jovem -, mas o que sei é que não tens nada a temer.

- Oh, mas é o miserável...

- Esse homem não pode nada contra mim, Haydée - tranquilizou-a Monte-Cristo. - Quando o caso era com o filho é que havia motivo para receios.

- Por isso nunca saberás o que sofri, meu senhor - declarou a jovem.

Monte-Cristo sorriu.

- Pela sepultura do meu pai - disse Monte-Cristo, estendendo a mão sobre a cabeça da rapariga -, juro-te que se acontecer alguma desgraça não será a mim.

- Acredito-te, meu senhor, como se Deus me falasse – respondeu Haydée, estendendo a fronte ao conde.

Monte-Cristo depositou naquela fronte tão pura e tão bela um beijo, que fez bater simultaneamente dois corações, um com violência e o outro surdamente.

- Oh, meu Deus, permiti que eu possa amar ainda!... - murmurou o conde. - Mande entrar o Sr. Conde de Morcerf para a sala - disse a Baptistin, enquanto conduzia a bela grega para uma escada oculta.

Uma palavra de explicação acerca desta visita, talvez esperada pelo conde de Monte-Cristo, mas inesperada, sem dúvida, para os nossos leitores.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069