Morrel abriu a porta de um salto e encontrou Valentine estendida no patamar.
Rápido como o relâmpago, levantou-a nos braços e sentou-a numa poltrona. Valentine abriu os olhos.
- Oh, que grande desajeitada! - exclamou com febril volubilidade. - Já não sei o que faço... esqueci-me de que havia mais três degraus antes do patamar!
- Feriu-se, Valentine? - perguntou Morrel. - Oh, meu Deus, meu Deus! Valentine olhou à sua volta e viu o mais profundo terror pintado nos olhos de Noirtier.
- Sossega, avozinho - disse, procurando sorrir. - Não foi nada, não foi nada... Foi apenas uma tontura.
- Mais uma vertigem! - exclamou Morrel, juntando as mãos. - Oh, tenha cuidado com isso, Valentine, suplico-lhe!
- Mas porquê, porquê, se lhe digo que tudo passou e não foi nada? - redarguiu Valentine. - Agora deixem-me dar-lhes uma novidade: Eugénie casa-se dentro de oito dias e daqui a três dias haverá uma espécie de grande festim, um banquete de noivado. Estamos todos convidados, o meu pai, a Sr.ª de Villefort e eu... Foi pelo menos o que deduzi.
- Quando será a nossa vez de nos ocuparmos desses pormenores? -suspirou Maximilien. - Oh, Valentine, já que tem tanto poder sobre o nosso avozinho, procure que ele lhe responda: «Em breve!»
- Quer dizer que conta comigo para estimular a lentidão e despertar a memória do avozinho? - perguntou Valentine.
- Claro! - exclamou Morrel. - Meu Deus, meu Deus, apresse-se. Enquanto não for minha, Valentine, parecer-me-á sempre que me vai fugir.
- Oh! - exclamou Valentine num gesto convulsivo. - Oh, na verdade, Maximilien, é demasiado tímido para um oficial, para um soldado que, segundo dizem, nunca conheceu o medo... Ah, ah, ah! E rompeu num riso estridente e doloroso. Os braços retesaram-se-lhe e contorceram-se, a cabeça caiu-lhe para trás na poltrona e ficou imóvel.
O grito de terror que Deus acorrentava nos lábios de Noirtier brotou-lhe do olhar.
Morrel compreendeu: era urgente pedir socorro.
O rapaz agarrou-se à campainha. A criada de quarto que estava nos aposentos de Valentine e o criado que substituíra Barrois acorreram simultaneamente.
Valentine estava tão pálida, tão fria e tão inanimada que, sem escutarem o que lhes diziam, se deixaram dominar pelo medo que velava constantemente sobre aquela casa maldita e saíram para os corredores a gritar por socorro.
A Sr.ª Danglars e Eugénie retiravam-se naquele preciso instante, mas puderam ainda saber a causa de todo aquele rebuliço.
- Bem lhes tinha dito! - exclamou a Sr.ª de Villefort. - Pobre criança!