O Conde de Monte Cristo - Cap. 106: A partilha Pág. 983 / 1080

»Repito:

»Compreende, porque conhece tão bem como eu os meus negócios; conhece-os até melhor do que eu, atendendo a que se fosse preciso dizer o que foi feito de uma metade da minha fortuna, ainda há pouco bastante considerável, eu seria incapaz disso minha senhora, pelo contrário, estou certo de que o diria perfeitamente.

»Porque as mulheres possuem instintos de uma certeza infalível e são capazes de explicar por meio de uma álgebra que inventaram o próprio maravilhoso. eu, que só conhecia as minhas contas, fiquei sem saber nada no dia que as minhas contas me enganaram. Alguma vez estranhou a rapidez da minha queda, minha senhora? Ficou um pouco encandeada com a incandescente fusão dos meus lingotes? Eu, confesso-o, só vi fogo; esperemos que a senhora tenha encontrado um pouco de ouro nas cinzas.

»É com esta consoladora esperança que me afasto, minha senhora e prudentíssima esposa, sem que a minha consciência me censure nem um bocadinho por a abandonar. Restam-lhe amigos, as cinzas a que me referi e, para cúmulo da felicidade, a liberdade que me apresso a conceder-lhe.

»No entanto, minha senhora, é altura de colocar nesta carta uma palavra de explicação íntima. Enquanto tive a esperança de que a senhora trabalhasse para o bem-estar da nossa casa, para a fortuna da nossa filha, fechei filosoficamente os olhos; mas como a senhora transformou a casa numa vasta ruína, não quero servir de alicerce à fortuna de outrem. Recebi-a rica, mas pouco honrada.

»Desculpe-me falar-lhe com esta franqueza, mas como provavelmente só para nós dois, não vejo por que motivo disfarçaria as minhas palavras. Aumentei a nossa fortuna, que durante mais de quinze anos foi crescente, até ao momento em que catástrofes desconhecidas e ainda incompreensíveis para mim a atacaram e derrubaram sem que, posso dizê-lo, a culpa fosse de algum modo minha. Pela minha parte a senhora trabalhou para aumentar a sua, o que conseguiu, estou moralmente convencido disso. Deixo-a portanto como a recebi: rica, mas pouco honrada.

»Adeus. Também eu vou a partir de hoje trabalhar por minha conta. Creia em todo o meu reconhecimento pelo exemplo que me deu e que vou seguir.

»Seu marido muito dedicado.

»Barão Danglars.

A baronesa não tirara os olhos de Debray durante esta longa e penosa leitura. E, apesar do domínio bem conhecido que ele possuía sobre si mesmo, viu o rapaz mudar de cor uma ou duas vezes.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069