Os Brilhantes do Brasileiro - Cap. 9: IX - Amores fatais Pág. 46 / 174

(D. Beatriz contava o caso expedindo uns espirros de riso gosmento). Dizia o velhacório que o seu último dia seria aquele em que me visse ligada a outro coração; e, ainda na véspera de me casar, me fez verter grossas bagadas sobre o papel em que me escrevia que o sangue lhe saía em borbotões pela boca. Depois, quando o vi muito barrigudo, casado com outra barriguda de feitio e da casta dele, pegou-me uma vontade de rir, que ainda agora não posso ter mão que me não doam as ilhargas!...

E casquinava de modo a humorística velhinha que Ângela ria também do irresistível grotesco de sua tia recordando tão comicamente os seus virginais amores.

- Pois convence-te, menina - volveu a fidalga, revertendo a custo à seriedade do ato - que estás passando pelo que passei; mas este cá me quer parecer mais manhoso do que o outro. Tem mais lábia. Vem cá com estas coisas dos artigos da fé, que rezava o pai... Pudera não! Ou ele não fosse sacristão!... Aposto eu que o filho não sabe o Padre Nosso! Se o pai era feliz na sua baixa posição, porque não vai ele para o lugar do pai? Eu já disse ao Zé tendeiro que se deixasse de o mandar estudar no Porto; que o metesse num ofício. E ele quem lhe deu dinheiro para seguir os estudos de cirurgião, ou médico, ou lá do que é? O cunhado quanto tem quanto me deve. Emprestei-lhe um conto de réis, a juro há três anos, e paga-me em arroz e bacalhau. Nem daqui a vinte anos me tem pago. Ora não há! - continuou a credora do merceeiro aguçando a voz em iracundo falsete - se eu via minha sobrinha casada com um lapuz, que ainda há anos andava por aí a jogar a pedrada no cais! Onde foi ele aprender este palavreado!... Nada... isto é dalgum finório que esperava ganhar alguma coisa se caísse o raio na minha família. Não há de cair! - bradou ela batendo com os ossos do pulso no capacho de palha em que encruzara as pernas.





Os capítulos deste livro