Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 9: IX - Amores fatais

Página 45
A grande herança que ele me deixou foi a certeza de que há pobres felizes. Conheço que minha mocidade já não vai encaminhada pela trilha da de meu pai. Ele ignorava tudo, exceto os artigos da fé que atam as tristezas transitórias desta vida aos eternos contentamentos doutra: eu estudo há seis anos, penso e aflijo-me em terríveis dúvidas; e, se creio nalguma coisa santa, é porque comparo a felicidade de meu ignorante pai com as dolorosas inquietações do meu espírito. Mas a ti que importa isto, minha adorada amiga? Que impertinentes cartas te escrevi nestas noites tão compridas e veladas! E que pesar me fica se elas te enfadam, cuidando eu que tens lá também noites sem dormir, e amizade bastante para aceitar as confidências do pobre solitário!...”

D. Beatriz deixou cair o braço que sustinha o papel, desarmou o olho cansado, e perguntou:

- Ele é quem ditou isto?

- Isto quê, minha tia?

- Esta carta... Não creio que ele saiba dizer estas coisas... Não pode ser... Alguém lhe faz as cartas... Nada... O Francisco da Joana, com aquela cara de bruto que tem, não ideava assim umas ideias tão discretas.

Aqui anda sancadilha armada à tua inocência, Ângela. Há velhaco escondido neste negócio!... Sabes o que é, tola?... O rapaz pensa que te prende com a confissão da sua humildade. Pouco mais ou menos aconteceu isso comigo, quando eu era da tua idade; e mais o meu pretendente era um doutor, filho do juiz de fora de Ponte. Também me veio com estas cantigas da desigualdade dos nossos nascimentos; e eu, a falar-te verdade, ia-me deixando levar, e não sei onde chegaria a minha loucura, se teu avô do pé p’rá mão não me escolhe marido conveniente. Casei, e daí a quinze dias já nem me lembrava o outro; só quando o vi passados anos, muito gordo e nédio, é que me lembrei do palavreado dele.

<< Página Anterior

pág. 45 (Capítulo 9)

Página Seguinte >>

Capa do livro Os Brilhantes do Brasileiro
Páginas: 174
Página atual: 45

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Aflições sudoríferas 1
II - 1.600$000 Réis! 5
III - Retratos do natural 12
IV - Tribunal de honra 15
V - Considerações plásticas 20
VI - Amigos do seu amigo 26
VII - Revelações cómicas 32
VIII - Revelações tristes 36
IX - Amores fatais 41
X - O Poeta 48
XI - Sonhos e esperanças 55
XII - A Fuga 59
XIII – Desamparo 63
XIV - Via dolorosa 68
XV - Meio milhão! 76
XVI - Por causa do Fígaro 85
XVII - História dos brilhantes 90
XVIII - A Infamada 100
XIX - Amor-próprio 106
XX - O Doente e o doutor 110
XXI - Morre Hermenegildo 119
XXII - Felicidade suprema 123
XXIII - Os homens honestos 132
XXIV - A Opinião pública 135
XXV - O Cego 141
XXVI - A Providência 145
XXVII - Vem rompendo a luz 149
XXVIII - Confidências do cego 154
XXIX - Luz! 162
XXX – Finalmente 168
Conclusão 172
Epílogo 174