E entre mim e ela será isto perpetuamente uma barreira.
Ela ficará sempre bela, dominativa, sedutora por natureza, instintivamente cativante, querida, amimada, estremecida, dentro da sua zona de aromas, de veludos, de cristais e de luzes!
Eu, entre a minha estante de pinho adornada com um boneco de gesso e a minha cama de ferro coberta de chita, ficarei sempre tenebroso e inútil, - desgraçado quando não quiser tornar-me tão ridículo, e irrisório quando tiver a vaidade de não querer ser desgraçado!…
Acendi as duas torcidas do meu candeeiro de latão e tentei estudar. Impossível. As letras de um livro que tinha aberto diante de mim percorri-as com a vista pelo espaço de três ou quatro páginas, maquinalmente, sem compreender o sentido de uma só palavra. Deixei o livro e fiquei por algum tempo inerte, estupido, neutro, com a vista fixa nas orbitas ocas de uma caveira que tinha sobre a mesa, e que se ria para mim com o escancelado sarcasmo que trazem da cova os esqueletos desenterrados. Aborrecia-me a vida. Apaguei a luz, despi-me e deitei-me.
Tinham-me feito a cama nesse dia com dois desses lenções de folhos engomados, com que a minha mãe enriquecera liberalmente o meu baú de estudante. Estes lenções tinham a aspereza do linho novo e o cheiro característico do bragal da província.