Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 28: QUINTA PARTE - AS REVELAÇÕES DE A. M. C.
CAPÍTULO I

Página 159

Eu, inteiriçado e embasbacado diante dela, não sabendo como segurar o chapéu e a bengala, na mais flagrante e minuciosa ostentação dos meus defeitos e da minha pobreza incaraterizada e burguesa. Ao lado de quanto nela havia ideal, transcendente, etéreo, ia eu vendo, enormemente avultado e saliente, quanto o meu aspeto oferecia mais baixo e mais vil: o casaco comprado ao barato num algibebe; as botas de duas solas torpemente desformadas e orladas de lama; as calças com umas joelheiras que me dão às pernas na posição vertical o desenho das de um homem que se está sentando; os punhos da camisa amarrotados; e a ponta do dedo máximo da mão direita sujo de tinta de escrever!

Eramos verdadeiramente os antípodas um do outro, postos na mesma latitude pela estupidez do acaso, e separados logo para sempre por aquelas palavras terríveis que me zuniam nos ouvidos como os prenúncios de uma congestão:

«Para o que eu prestar estou sempre às ordens!»

Não sei que estranha atracão amarrava o meu espirito à lembrança da mulher que eu acabava de ver! Não era indefinida simpatia, não era oculto desejo, não era um vago amor. Interrogava-me detidamente, e o único movimento que encontrava no meu coração - sinceramente o confesso - era o do odio. Odio àquela mulher, odio inexplicável, monstruoso, como aquele que imagino ser o de um enjeitado à sociedade em que nasceu!

A distinção aristocrática, a elegância da raça daquela gentil criatura aviltava-me, enfurecia-me, revolvia no meu interior esse fermento de rebelião demagógica que todo o plebeu traz sempre escondido, como uma arma proibida, no fundo da sua alma.

Aquela mulher tinha certamente, um espirito menos culto do que o meu, uma razão menos firme, uma vontade menos forte, um destino menos amplo.

<< Página Anterior

pág. 159 (Capítulo 28)

Página Seguinte >>

Capa do livro O Mistério da Estrada de Sintra
Páginas: 245
Página atual: 159

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
CARTA AO EDITOR, 1
PRIMEIRA PARTE - EXPOSIÇÃO DO DOUTOR
CAPÍTULO I
5
CAPÍTULO II 10
CAPÍTULO III 14
CAPÍTULO IV 18
CAPÍTULO V 25
CAPÍTULO VI 30
CAPÍTULO VII 37
SEGUNDA PARTE - INTERVENÇÃO DE Z.
CAPÍTULO I
44
TERCEIRA PARTE - DE F… AO MÉDICO
CAPÍTULO I
50
CAPÍTULO II 56
CAPÍTULO III 60
QUARTA PARTE - NARRATIVA DO MASCARADO ALTO
CAPÍTULO I
79
CAPÍTULO II 85
CAPÍTULO III 91
CAPÍTULO IV 94
CAPÍTULO V 102
CAPÍTULO VI 108
CAPÍTULO VII 113
CAPÍTULO VIII 118
CAPÍTULO IX 123
CAPÍTULO X 125
CAPÍTULO XI 130
CAPÍTULO XII 134
CAPÍTULO XIII 138
CAPÍTULO XIV 143
CAPÍTULO XV 149
QUINTA PARTE - AS REVELAÇÕES DE A. M. C.
CAPÍTULO I
154
CAPÍTULO II 163
CAPÍTULO III 165
CAPÍTULO IV 170
CAPÍTULO V 182
CAPÍTULO VI 187
SEXTA PARTE - A CONFISSÃO DELA
CAPÍTULO I
190
CAPÍTULO II 195
CAPÍTULO III 197
CAPÍTULO IV 204
CAPÍTULO V 208
CAPÍTULO VI 213
CAPÍTULO VII 217
CAPÍTULO VIII 221
CAPÍTULO IX 226
CAPÍTULO X 231
SÉTIMA PARTE - CONCLUEM AS REVELAÇÕES DE A. M. C.
CAPÍTULO I
236
CAPÍTULO II 240