O Mistério da Estrada de Sintra - Cap. 41: CAPÍTULO VIII Pág. 223 / 245

emplumado e coroado, dar-te-á a sensação do abandono; e as consolações que então te quiser ministrar o amor pela sociedade que te falta, encontrarão aos teus olhos o mesmo tédio que encontrariam agora as consolações da sociedade pelo amor que te fugisse. Uma mulher que foge com o seu amante, só pode ter um lugar no Demi-Monde; ou então um lugar equivoco nas salas, quando é célebre por um talento ou por uma arte. Ora tu não quererás ir para a Itália frequentar, em Nápoles, Madame de Salmé, nem quererás cantar num teatro, nem cometer a inconveniência de escrever um livro. A viver modesta, tens de viver triste; a viver radiante, tens de viver humilhada. E pensas que podes, por um ano sequer, viver na intimidade absoluta e no segredo?

O segredo, o refúgio, um ninho perfumado num quinto andar, são coisas extremamente doces, no meio da sociedade e das relações do mundo; a publicidade oficial da vida dá então um encanto estranho àqueles momentos de mistério. Mas a perpetuidade do mistério deve ser igual àquela legendaria tortura da beatitude eterna! Quando dois entes se encontram pelas fatais condições do seu procedimento, obrigados a viverem um do outro, um para o outro, um eternamente no segredo do outro, quando isto se não passa na ilha de Robinson, nem entre dois discípulos de Sedwinborg, nem entre dois desgraçados cheios de fome - mas numa cidade ruidosa e viva, entre duas pessoas positivas e educadas pelo segundo império, e que têm as complacências do luxo, crê que deve ser amargo.

E depois, pensa! A nossa vida arrastar-se-á tristemente, de país em país, sem um centro amado, sem uma família, sem um fim. Não teremos, nem durante a existência, nem no grave momento da morte, a serenidade de quem é justo. A nossa vida será como a das sombras românticas de Paulo e Francesca de Rimini, levadas pelo vento contraditório.





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