O segredo, o refúgio, um ninho perfumado num quinto andar, são coisas extremamente doces, no meio da sociedade e das relações do mundo; a publicidade oficial da vida dá então um encanto estranho àqueles momentos de mistério. Mas a perpetuidade do mistério deve ser igual àquela legendaria tortura da beatitude eterna! Quando dois entes se encontram pelas fatais condições do seu procedimento, obrigados a viverem um do outro, um para o outro, um eternamente no segredo do outro, quando isto se não passa na ilha de Robinson, nem entre dois discípulos de Sedwinborg, nem entre dois desgraçados cheios de fome - mas numa cidade ruidosa e viva, entre duas pessoas positivas e educadas pelo segundo império, e que têm as complacências do luxo, crê que deve ser amargo.
E depois, pensa! A nossa vida arrastar-se-á tristemente, de país em país, sem um centro amado, sem uma família, sem um fim. Não teremos, nem durante a existência, nem no grave momento da morte, a serenidade de quem é justo. A nossa vida será como a das sombras românticas de Paulo e Francesca de Rimini, levadas pelo vento contraditório.