O Mistério da Estrada de Sintra - Cap. 9: SEGUNDA PARTE - INTERVENÇÃO DE Z.
CAPÍTULO I Pág. 47 / 245

E tudo isto se faz em meia hora! em meia hora! Devendo, meus senhores, descontar-se desta meia hora o tempo que vai da minha casa à casa do crime, e daí a casa de A. M. C.! Pode isto ser?

Agora outro argumento: Eu conheço A. M. C.: o seu carater é digno, impecável; o seu coração é compassivo e simples; a sua vida é laboriosa e isolada; não existe nela nem mistério, nem aventura, nem patético: estava para casar, sem romance, trivialmente.

Eu sabia de todos os seus passos, conhecia as suas relações. Estou certo que nunca viu o assassinado, o qual, no dizer do doutor, parecia estrangeiro, sem relações aqui, e domiciliado há pouco tempo em Portugal!

Poderia ser um encontro casual, uma rixa inesperada? Impossível. Se o homem foi encontrado estendido num sofá, morto com ópio!

Poderia M. C. ter sido assalariado para cometer este crime? Que loucura! Um homem da sua inteligência, do seu carater, da sua elevação de espírito! Além de que, hoje o emprego de homicida, regular e devidamente retribuído como uma função publica, não existe nos costumes.

Pôde-se conceber que um homem que premedita um crime esteja até ao momento decisivo distraído, espirituoso, desabotoando os seus paradoxos,

bebendo cerveja? E que depois vá sossegadamente dormir, e que um amigo que o visite na manhã seguinte encontre sobre a sua banca de cabeceira, uma chávena de chá e um livro de história?

E dê-se isto com um homem de carater tímido, de hábitos modestos, homem de estudo, sem energia de ação, e de uma notável franqueza de impressões!

Se me perguntarem, porém, porque aparece M. C. de noite naquela casa com um martelo, com pregos, e se declara assassino, - isso não o sei explicar.

Suspeito que haja uma grande influência que pesa sobre ele, alguém que com promessas extraordinárias, com seduções indizíveis, o obriga a apresentar-se como autor do crime.





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