M. C. evidentemente sacrifica-se. Por quem, ignoro-o. Mas sacrifica-se, e na ignorância de que estas dedicações são sempre desapreciadas perante o trabalho da polícia, quer expiar o crime de outro; perde-se para salvar alguém.
Com que interesse? porque seduções? Não sei explicar. Ele, tão indiferente ao dinheiro! tão rígido de costumes e de sensações!
Pois bem! M. C. pode sacrificar-se; pôde-o fazer. Nós, seus amigos, é que não podemos consenti-lo. O seu corpo, que lhe pertence exclusivamente, pode dá-lo à infeção de um carcere, ou ao peso de uma grilheta. Mas o seu carater, a sua honra, a sua reputação, a sua alma, essa pertence também aos seus amigos, e a parte que nos pertence havemos de defende-la corajosamente.
Não! M. C. não foi o assassino. Di-lo a evidencia, a fatal logica dos fatos, a terrível matemática do tempo, o conhecimento do seu carater, e a coerência dos temperamentos, que é uma verdade nas ciências fisiológicas. Não, não é o assassino. Se o diz, está louco, mente. Digo-lho claramente, em frente, diante dos seus próprios olhos fitos sobre os meus: - Se te declaras o autor desse crime, mentes!
Ele tem decerto o senso moral transviado. Se me deixassem falar-lhe!… Esclareçam-lhe, pelo amor de Deus, aquela razão cheia de escuras nuvens da paixão e da dor! Isto é aflitivo! Honra, amor, família, esperança, tudo esqueceu esse homem! Que se lembre, o desgraçado, que não é só neste mundo. Que se lembre que talvez a estas horas, no fundo da província, sua mãe, suas irmãs, sabem já que ele está aqui apontado como assassino! Que se lembre da terrível desonra, do seu futuro perdido, das horas solitárias da prisão, da atroz vergonha de um interrogatório publico, e do eco profundo que faz na alma humana o ruido sinistro dos ferros da grilheta.