O Mistério da Estrada de Sintra - Cap. 16: CAPÍTULO IV Pág. 98 / 245

Mas estão foi Carmen que não quis ficar dentro do palanquim, pediu, gritou, queria montar a cavalo, sentir o cheiro à fera.

- Tirem-me daqui, tirem-me daqui! Não fiz esta jornada toda para ficar dentro de uma gaiola…

Não havia sela em que mulher montasse, nem cavalo bastante fiel; não se podia consentir que Carmen descesse. Mas eu tive uma ideia estranha, perigosa, tentadora, imprevista: era pô-la à garupa do meu cavalo. Disse-lho.

Ela teve um gesto de alegria, quase se deixou escorregar, agarrando-se às cordas do palanquim, pelo ventre do elefante; correu, pôs o pé no meu estribo, enlaçou-me a cintura, e com um lindo pulo, sentou-se à garupa. Os oficiais exclamavam que era uma imprudência. Ela queria, instava e apertava-

me contra a curva do seu peito, rindo, jurando que nem as garras do tigre a arrancariam dali…

Os malaios preparavam os tridentes, dispunham a matilha. Eu, como levava Carmen à garupa, tinha-me colocado atrás do grupo, cerrado, com os pés firmes nos estribos, atento, os olhos fitos na espessura dos tamarindos.

Mas nem se ouviam rugidos, nem um estremecimento de folhagem.

Carmen apertava-me exaltada.

- Vá! Vá! pediu-me ela baixo. O tigre, o tigre! Dê o sinal.

Ergui um revolver e disparei. O eco foi cheio e poderoso. E logo ouviu-se um rugido surdo, lúgubre, rouco, que era a resposta do tigre. Estava perto, entre os primeiros tamarindos. A matilha rompeu a ladrar…

- Que ninguém se alargue! disse o velho brahmane, que tinha trepado a uma palmeira, e de lá olhava, farejava, ordenava!

Todos conservavam a espada ou tridente inclinado em riste, esperando o salto do tigre. Eu dera uma cuchila a Carmen, tinha na mão da rédea um forte revolver e na outra um punhal curvo…

De repente os arbustos estremeceram, as altas ervas curvaram-se, sentiu-se um bafo quente, um cheiro de sangue, e o tigre veio cair, com um rugido, diante dos caçadores, no meio da clareira, estacado, e imóvel.





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