Um Caso Tenebroso - Cap. 2: II – PROJECTO DE UM CRIME Pág. 19 / 249

- Porque esconde essa carabina, minha rica menina? - disse o jovial companheiro do moço que, ao transpor o portão, se deu conta do cano da espingarda.

- Trabalhas sempre, até no campo! - exclamou o mais jovem, sorrindo.

Os" dois voltaram para trás, tomados de um sentimento de desconfiança, que o administrador compreendeu, não obstante a impassibilidade do rosto de qualquer deles; Marta deixou-os mirar a carabina, enquanto Couraut rosnava, pois estava certa de que Michu maquinava qualquer mau passo e quase estimou a perspicácia dos desconhecidos.

O marido re1anceou à mulher um olhar que a fez estremecer; pegando, então na carabina, julgou-se no dever de lhe meter uma bala no cano como se aceitasse as fatais consequências desta descoberta e deste encontro; dir-se-ia já com pouco amor à vida, e a mulher compreendeu por fim a sua funesta resolução.

- Com que então há lobos por estes sítios? - perguntou o mais novo a Michu.

- Onde há carneiros não faltam lobos. Os senhores estão na Champagne e isto é e uma floresta, mas também há javalis, caça grossa e caça miúda; temos um pouco de tudo - comentou Michu com ares zombeteiros.

- Ia apostar, Corentin -disse o mais velho dos dois, apos um olhar ao companheiro – que este homem é Michu...

- Não guardámos porcos juntos - tornou-lhe o administrador.

- Não, mas presidimos aos Jacobinos, cidadão - replicou o velho cínico. -; você em Arcis, eu alhures. Tu conservaste a cortesia da carmanhola; mas a carmanhola já passou de moda, meu menino.

- O parque é muito grande, somos capazes de nos perder; se você é o administrador, queira acompanhar-nos ao castelo - ordenou Corentin em tom peremptório.

Michu assobiou ao filho e continuou a carregar o cartucho.





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