Um Caso Tenebroso - Cap. 2: II – PROJECTO DE UM CRIME Pág. 20 / 249

Corentin contemplava Marta um tanto distraído, enquanto que o seu companheiro parecia encantado; e dir-se-ia observar nela sinais de uma angústia por que não dera o velho libertino, a quem a carabina assustara. Aquelas duas naturezas pintavam-se em corpo inteiro numa pequena coisa tão grande.

- Tenho que estar do outro lado da floresta - disse o administrador -; não posso prestar-lhe pessoalmente esse serviço; mas o meu pequeno os conduzirá até ao castelo. Por onde vieram para Gondreville? Teriam vindo por Cinq-Cygne?

- Também nós, como você, temos que fazer na floresta - tornou-lhe Corentin, sem ironia aparente,

- Francisco! - chamou Michu. - Leva estes senhores ao castelo pelos atalhos, para que eles não sejam vistos; não são pessoas para andar por estradas concorridas… Anda cá, primeiro - prosseguiu, ao ver os dois desconhecidos, que lhe tinham voltado as costas, e seguiam conversando um com o outro em voz baixa.

Michu agarrou o filho, beijou-o quase santamente e com uma expressão que confirmava as apreensões da mulher; esta sentiu um arrepio na espinha e encarou com a mãe de olhos enxutos, pois não podia chorar.

- Vai - disse Michu para o filho.

E ficou a olhá-lo até o perder completamente de vista.

Couraut continuava a rosnar voltada para a quinta de Grouage.

- Oh! É o Violette - disse Michu. - É a terceira vez que ele aqui passa desde manhã. Que andará no ar? Basta, Couraut!

Momentos depois ouvia-se o trote de um cavalo.

Violette, montado num desses potros de que se servem os lavradores nos arredores de Paris, mostrou, debaixo de um amplo chapéu redondo e de grandes abas, um rosto que parecia de madeira, e muito enrugado, e assim ainda mais sombrio. O que havia de traiçoeiro no seu carácter lia-se-lhe nos olhos cinzentos, maliciosos e brilhantes.





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