Um Caso Tenebroso - Cap. 4: IV - FORA A MÁSCARA! Pág. 37 / 249

- Com que então, atreveste-te a espionar um jacobino dos bons, que teve a honra de presidir ao clube de Arcis, e julgas que ele anda a dormir? Tenho olhos na cara; eu bem vi os teus tijolos cimentados de novo, e logo concluí que os não tinhas arrancado para semear trigo lá dentro... Vamos ao vinho.

Violette, muito perturbado, bebeu um grande copo sem reparar na qualidade; o pavor cravara-lhe como que um ferro em brasa no ventre; a aguardente queimou-a a avareza; o que ele não teria dado para estar àquela hora em casa a mudar o sítio do seu tesouro! As três mulheres sorriam.

- Que tal? - disse Michu para Violette, enchendo-lhe mais um copo.

- Bom.

- É como se estivesses em tua casa, meu maroto!

Depois de meia hora de discussões animadas sobre a época em que o contrato entraria em execução, as mil chicanas em que se entretêm os camponeses quando fecham um contrato, no meio de ditos, de copos esvaziados, de troca de palavras cheias de promessas, de recusas, de «Pois não é verdade? - Está claro! - Palavra de honra! - É como lhe digo! - Eu seja cego! - Que este copo de vinho seja veneno se o que eu digo não é a pura da verdade! ... ». Violette deixou cair a cabeça em cima da mesa, não bêbedo, mas como morto; e logo que lhe viu os olhos toldados, Michu tratou de abrir a janela.

- Onde está esse patife do Gaucher? - perguntou à mulher.

- Está deitado.

- Tu, Mariana, vai estender-te ao comprido diante da porta do quarto dele - disse o administrador à sua fiel criada -, e olho nele. A senhora, minha mãe, fique aqui em baixo, não perca de vista este espião; esteja alerta e não abra a porta senão quando ouvir a voz do Francisco. Trata-se de um caso de vida ou de morte! - acrescentou, numa voz cava. - Para toda a gente que vive debaixo das minhas telhas eu não saí daqui esta noite, nem que vos ponham as mãos no fogo, não dirão outra coisa.





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