Vinte Mil Léguas Submarinas - Cap. 30: Capítulo 30 Pág. 146 / 258

Aliás, o nosso navio só subia à superfície quando era noite, para renovar suas provisões de ar. Navegava pelas indicações da bússola. Portanto, só vi do Mediterrâneo o que o viajante de um comboio expresso avista da paisagem que lhe foge diante dos olhos, isto é, os horizontes longínquos e não os primeiros planos. Estes passam velozmente.

No entanto, ele diminuiu a velocidade ao passarmos entre a Sicília e a costa da Tunísia. Nesse espaço, apertado entre o Cabo Bom e o Estreito de Messina, o fundo do mar sobe quase de repente. Ali formou-se uma verdadeira crista sobre a qual não restam mais do que dezassete metros de água, enquanto que de um lado e do outro dessa elevação a profundidade é de cento e setenta metros. Portanto o “Nautilus” teve que manobrar com prudência para não bater nessa verdadeira barreira submarina.

Mostrei a Conselho, no mapa do Mediterrâneo, o lugar ocupado por esse longo recife.

- Com sua licença - disse ele - isso é um verdadeiro istmo que une a Europa à África.

- De fato é - apoiei a observação dele. - Essa barreira obstrui completamente o Estreito da Líbia. As sondagens de Smith provaram que os continentes outrora estavam unidos entre o Cabo Baco e o Cabo Furina.

- Acredito nisso, senhor.

- Existe uma barreira semelhante entre Gibraltar e Ceuta, que nos tempos remotos fechava completamente o Mediterrâneo.

Conselho tinha vindo-me procurar para continuarmos nossas observações de alguns peixes do Mediterrâneo. Antes que esses assuntos o empolgassem, chamei-o para nos pormos à espreita diante dos painéis do salão e comecei a fazer os meus apontamentos. Justamente naquele momento, no meio da massa de águas vivamente iluminadas por jorros de luz elétrica, serpenteavam algumas lampreias com um metro de comprimento. Toda a nossa atenção se concentrou nelas.





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