Vinte Mil Léguas Submarinas - Cap. 6: Capítulo 6 Pág. 19 / 258

- Temos que pegá-lo, comandante! - animei-o.

Era de esperar que o animal se esgotasse e não fosse indiferente à fadiga. Mas isso não aconteceu. As horas passaram sem que ele desse qualquer sinal de cansaço. A “Abraham Lincoln” lutava com infatigável tenacidade. Calculo que tenha percorrido mais de quinhentos quilômetros ao longo daquele fatídico dia 6 de novembro. Mas a noite chegou e envolveu em sombras o mar encapelado.

Pensei que a nossa expedição havia chegado ao fim e que nunca mais veríamos aquele animal fantástico. Enganei-me. Quase às onze horas da noite a luminosidade elétrica reapareceu a três milhas a barlavento da fragata, tão pura e tão intensa como na noite anterior. O narval parecia estar imóvel, talvez fatigado, deixando-se vogar ao sabor das ondas. Era uma oportunidade que o Comandante Farragut resolveu aproveitar. Deu as suas ordens. A “Abraham Lincoln” avançou a baixa velocidade, prudentemente, para não acordar o adversário. Desligou as caldeiras a cerca de trezentos metros do animal e se pôs à deriva. Ninguém respirava a bordo. Reinava um silêncio profundo na coberta. Estávamos a menos de quarenta metros do foco ardente, cujo brilho aumentava e nos ofuscava os olhos.

Nesse momento vi Ned Land encostado ao cabo do castelo de proa segurando o arpão. Menos de sete metros o separavam do animal. De repente ele estendeu o braço com toda a força e o arpão foi lançado.

Ouvi o choque sonoro da arma, que parecia ter-se embatido num corpo duro.

O foco elétrico apagou-se subitamente e duas enormes trombas de água abateram-se sobre a coberta da fragata, deslizando como uma torrente, de proa à popa, derrubando os marinheiros e quebrando os mastros. Deu-se um embate terrível. Pego de surpresa, não consegui-me segurar e fui lançado por cima da amurada. Caí ao mar.





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