Vinte Mil Léguas Submarinas - Cap. 43: Capítulo 43 Pág. 233 / 258

Ele não era uma rocha resistente que as ondas teriam demolido. Era um fuso de aço, obediente e móvel, sem mastreação, que desafiava a fúria da natureza.

Entretanto, eu examinava atentamente as vagas que mediam até quinze metros de altura por um comprimento de cento e trinta a cento e setenta metros, sendo a sua velocidade de propagação de quinze metros por segundo. Metade da do vento. O seu volume e potência cresciam com a profundidade das águas. Compreendi então o papel das ondas que aprisionam o ar nos seus flancos e o levam para o fundo dos mares aos quais dão vida, dando-lhes oxigênio. A sua força de pressão, segundo se calcula, pode elevar-se até três mil quilos por pé quadrado da superfície que contra-atacam. Foram ondas como aquelas que, nas Hébridas, deslocaram um bloco que pesava oitenta e quatro mil libras. Foram elas que na tempestade de 23 de dezembro de 1864, depois de terem derrubado uma parte da cidade de Yeddo, no Japão, foram, com uma velocidade de setecentos quilômetros por hora, assolar no mesmo dia as costas da América do Norte.

A intensidade da tempestade cresceu com a noite. O barômetro, como em 1860, na Reunião, durante um ciclone, desceu a setecentos e dez milímetros. Ao fim do dia vi passar no horizonte um grande navio que lutava com muito esforço, capeando a pouco vapor para se manter sobre as vagas. Devia ser um dos vapores das linhas de Nova Iorque a Liverpool ou ao Havre. Não tardou a desaparecer nas sombras da noite.

As dez horas o céu estava em fogo. A atmosfera foi cortada por raios violentos. Eu não conseguia suportar-lhes o brilho, enquanto o Capitão Nemo, olhando-os bem de frente, parecia aspirar neles a alma da tempestade.





Os capítulos deste livro