Vinte Mil Léguas Submarinas - Cap. 9: Capítulo 9 Pág. 30 / 258

- Bem pensado, mestre Land - repliquei. - Mas, que eu saiba, ainda não nos foi feita nenhuma proposta, e portanto é inútil discutir o que devemos fazer. Vamos aguardar e reagir diante de circunstâncias concretas. De qualquer maneira, não creio que tenhamos condições de exigir muita coisa.

Os sinais de inconformismo eram fáceis de se perceber no canadiano. Isso me deixava bastante preocupado. Eu mesmo estava incomodado com o nosso abandono naquela cela e nem podia calcular quanto tempo poderíamos ficar detidos nela. As esperanças que eu tinha alimentado depois que o comandante do submarino estivera connosco, desvaneciam-se pouco a pouco. A doçura do olhar daquele homem, a expressão generosa do seu rosto, a nobreza do seu porte, tudo isso desaparecia da minha lembrança, e eu via aquela personagem enigmática como ela devia ser, necessariamente impiedosa e cruel. Sentia-o desumano, incapaz de qualquer sentimento de piedade, inimigo implacável dos seus semelhantes aos quais devia consagrar eterno ódio.

Naquele momento, ouvimos um ruído no exterior e escutamos passos que se aproximavam no chão metálico.

Os ferrolhos foram corridos, a porta foi aberta e o mesmo empregado que nos servira a comida entrou. Antes que eu tivesse tempo de impedir, o canadiano precipitou-se sobre ele, derrubou-o e começou a estrangulá-lo. Conselho tentava retirar a vítima já meio inanimada das mãos do arpoador, e eu ia juntar meus esforços ao dele quando, subitamente, fui surpreendido ao ouvir uma advertência falada em excelente francês:

- Acalme-se, mestre Land. E o senhor professor, queira escutar-me.





Os capítulos deste livro