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Capítulo 112: A partida

Página 1035
Oh, olhe para mim e veja se existe em mim a sombra de uma censura! O conde levantou os olhos e pousou-os em Mercédès, que, semilevantada, estendia as mãos para ele.

- Sim, olhe para mim - continuou ela com profunda melancolia.

- Hoje pode-se suportar o brilho dos meus olhos; já lá vai o tempo em que vinha sorrir a Edmond Dantès, que me esperava lá em cima, à janela da mansarda que habitava com o seu velho pai... Desde então, muitos dias dolorosos passaram que cavaram como que um abismo entre mim e esse tempo. Acusá-lo, Edmond; odiá-lo, meu amigo! Não, é a mim que acuso e odeio! Oh, como fui miserável! - exclamou, juntando as mãos e erguendo os olhos ao céu. - Fui punida... Possuía a religião, a inocência e o amor, essas três felicidades que fazem os anjos, e, miserável como sou, duvidei de Deus!

Monte-Cristo deu um passo para ela e estendeu-lhe silenciosamente a mão.

- Não - disse ela, retirando suavemente a sua -, não, meu amigo, não me toque. Poupou-me, e no entanto, de todos aqueles que o feriram, eu era a mais culpada. Todos os outros agiram por ódio, por cupidez, por egoísmo; eu agi por cobardia. Eles desejavam, eu tive medo. Não, não me aperte a mão. Edmond, pensa em qualquer palavra afectuosa, adivinho-o; não a diga... Guarde-a para outra, pois já não sou digna de a ouvir. Veja... -disse, descobrindo por completo o rosto - veja, a desgraça encheu-me de cabelos grisalhos, os meus olhos verteram tantas lágrimas que estão cercados de veias roxas, e a testa cobriu-se-me de rugas. O senhor, pelo contrário, Edmond, continua jovem, sempre belo, sempre orgulhoso. Porque teve fé, porque teve coragem, porque confiou em Deus e Deus amparou-o.

»Eu fui cobarde, reneguei, Deus abandonou-me e veja.

Mercédes desatou a chorar; o coração da mulher não resistia ao choque das recordações.

Monte-Cristo pegou-lhe na mão e beijou-lha respeitosamente; mas ela própria sentiu que aquele beijo carecia de ardor, era como o que o conde depositaria na mão de mármore da estátua de uma santa.

- Existem vidas predestinadas cuja primeira falta destrói todo o futuro - continuou ela. - Julgava-o morto e por isso eu devia ter morrido. Porque, que adiantou ter trazido eternamente o seu luto no coração? Apenas transformar uma mulher de trinta e nove anos numa mulher de cinquenta, mais nada. Que adiantou que, tendo sido a única pessoa a reconhecê-lo, me tenha limitado a salvar o meu filho? Não deveria salvar também o homem, por mais culpado que fosse, que aceitara como marido? No entanto, deixei-o morrer. Que digo, meu Deus?

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Capa do livro O Conde de Monte Cristo
Páginas: 1080
Página atual: 1035

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Marselha - A Chegada 1
O pai e o filho 8
Os Catalães 14
A Conspiração 23
O banquete de noivado 28
O substituto do Procurador Régio 38
O interrogatório 47
O Castelo de If 57
A festa de noivado 66
Os Cem Dias 89
O número 34 e o número 27 106
Um sábio italiano 120
A cela do abade 128
O Tesouro 143
O terceiro ataque 153
O cemitério do Castelo de If 162
A Ilha de Tiboulen 167
Os contrabandistas 178
A ilha de Monte-Cristo 185
Deslumbramento 192
O desconhecido 200
A Estalagem da Ponte do Gard 206
O relato 217
Os registos das prisões 228
Acasa Morrel 233
O 5 de Stembro 244
Itália - Simbad, o marinheiro 257
Despertar 278
Bandidos Romanos 283
Aparição 309
A Mazzolata 327
O Carnaval de Roma 340
As Catacumbas de São Sebastião 356
O encontro 369
Os convivas 375
O almoço 392
A apresentação 403
O Sr. Bertuccio 415
A Casa de Auteuil 419
A vendetta 425
A chuva de sangue 444
O crédito ilimitado 454
A parelha pigarça 464
Ideologia 474
Haydée 484
A família Morrel 488
Píramo e Tisbe 496
Toxicologia 505
Roberto, o diabo 519
A alta e a baixa 531
O major Cavalcanti 540
Andrea Cavalcanti 548
O campo de Luzerna 557
O Sr. Noirtier de Villefort 566
O testamento 573
O telégrafo 580
Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588
Os fantasmas 596
O jantar 604
O mendigo 613
Cena conjugal 620
Projetos de casamento 629
No gabinete do Procurador Régio 637
Um baile de Verão 647
As informações 653
O baile 661
O pão e o sal 668
A Sra. de Saint-Méran 672
A promessa 682
O jazigo da família Villefort 705
A ata da sessão 713
Os progressos de Cavalcanti filho 723
Haydée 732
Escrevem-nos de Janina 748
A limonada 762
A acusação 771
O quarto do padeiro reformado 776
O assalto 790
A mão de Deus 801
Beauchamp 806
A viagem 812
O julgamento 822
A provocação 834
O insulto 840
A Noite 848
O duelo 855
A mãe e o filho 865
O suicídio 871
Valentine 879
A confissão 885
O pai e a filha 895
O contrato 903
A estrada da Bélgica 912
A estalagem do sino e da garrafa 917
A lei 928
A aparição 937
Locusta 943
Valentine 948
Maximilien 953
A assinatura de Danglars 961
O Cemitério do Père-lachaise 970
A partilha 981
O covil dos leões 994
O juiz 1001
No tribunal 1009
O libelo acusatório 1014
Expiação 1021
A partida 1028
O passado 1039
Peppino 1049
A ementa de Luigi Vampa 1058
O Perdão 1064
O 5 de Outubro 1069