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Capítulo 112: A partida

Página 1036
Contribui para a sua morte com a minha cobarde insensibilidade, com o meu desprezo, não me lembrando, não querendo lembrar-me, de que fora por mim que se tornara perjuro e traidor! Que adiantou, finalmente, que tivesse acompanhado o meu filho até aqui, se aqui o abandonei, se aqui o deixei partir sozinho, se aqui o entreguei à terra devoradora de África? Oh, tenho sido cobarde, garanto-lhe! Reneguei o meu amor e, como os renegados, trago a desgraça a tudo o que me rodeia!

- Não, Mercédès - disse Monte-Cristo -, não. Não persista nessa má opinião de si mesma. Não, a senhora é uma nobre e santa mulher, que me desarmara com a sua dor. Mas atrás de mim, invisível, desconhecido, irritado, havia Deus, do qual eu era apenas o mandatário, e que não quis deter o raio que eu lançara. Oh, esse Deus aos pés do qual me prosterno todos os dias há dez anos sabe que lhe sacrificaria a vida, Mercédès, e com a vida os projectos que lhe estavam relacionados. Mas, digo-o com orgulho, Mercédès, Deus necessitava de mim e eu vivi. Examine o passado, examine o presente, procure adivinhar o futuro, e veja se não sou um instrumento do Senhor. A primeira parte da minha vida foi constituída pelas mais horríveis desventuras, pelos mais cruéis sofrimentos, pelo abandono de todos aqueles que me amavam, pela perseguição daqueles que me não conheciam. Depois, de repente, após o cativeiro, o isolamento e a miséria, o ar, a liberdade e uma fortuna tão deslumbrante, tão prodigiosa, tão desmedida que, a menos que fosse cego, teria de admitir que Deus ma enviava com grandes desígnios. Desde então, essa fortuna pareceu-me ser um sacerdócio; desde então, nem mais um pensamento dedicado a essa vida de que a senhora, pobre mulher, saboreou algumas vezes a doçura; nem uma hora de calma, nem uma. Senti-me impelido como a nuvem de fogo que passa no céu para ir queimar as cidades malditas. Como esses capitães aventureiros que embarcam para uma viagem perigosa, que planeiam uma expedição arriscada, preparei os víveres, carreguei as armas, amontoei os meios de ataque e defesa habituando o meu corpo aos exercícios mais violentos, a minha alma aos choques mais rudes, e ensinando o meu braço a matar, os meus olhos a ver sofrer e a minha boca a sorrir aos aspectos mais terríveis. De bom, de confiante, de generoso que era, tornei-me vingativo, dissimulado, mau; ou antes impassível como a surda e cega fatalidade. Então lancei-me no caminho que abrira, transpus o espaço, consegui os meus fins. Ai daqueles que se cruzassem no meu caminho!

- Basta! - exclamou Mercédès. - Basta, Edmond! Acredite, aquela que foi a única capaz de o reconhecer foi também a única capaz de o compreender.

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Capa do livro O Conde de Monte Cristo
Páginas: 1080
Página atual: 1036

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Marselha - A Chegada 1
O pai e o filho 8
Os Catalães 14
A Conspiração 23
O banquete de noivado 28
O substituto do Procurador Régio 38
O interrogatório 47
O Castelo de If 57
A festa de noivado 66
Os Cem Dias 89
O número 34 e o número 27 106
Um sábio italiano 120
A cela do abade 128
O Tesouro 143
O terceiro ataque 153
O cemitério do Castelo de If 162
A Ilha de Tiboulen 167
Os contrabandistas 178
A ilha de Monte-Cristo 185
Deslumbramento 192
O desconhecido 200
A Estalagem da Ponte do Gard 206
O relato 217
Os registos das prisões 228
Acasa Morrel 233
O 5 de Stembro 244
Itália - Simbad, o marinheiro 257
Despertar 278
Bandidos Romanos 283
Aparição 309
A Mazzolata 327
O Carnaval de Roma 340
As Catacumbas de São Sebastião 356
O encontro 369
Os convivas 375
O almoço 392
A apresentação 403
O Sr. Bertuccio 415
A Casa de Auteuil 419
A vendetta 425
A chuva de sangue 444
O crédito ilimitado 454
A parelha pigarça 464
Ideologia 474
Haydée 484
A família Morrel 488
Píramo e Tisbe 496
Toxicologia 505
Roberto, o diabo 519
A alta e a baixa 531
O major Cavalcanti 540
Andrea Cavalcanti 548
O campo de Luzerna 557
O Sr. Noirtier de Villefort 566
O testamento 573
O telégrafo 580
Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588
Os fantasmas 596
O jantar 604
O mendigo 613
Cena conjugal 620
Projetos de casamento 629
No gabinete do Procurador Régio 637
Um baile de Verão 647
As informações 653
O baile 661
O pão e o sal 668
A Sra. de Saint-Méran 672
A promessa 682
O jazigo da família Villefort 705
A ata da sessão 713
Os progressos de Cavalcanti filho 723
Haydée 732
Escrevem-nos de Janina 748
A limonada 762
A acusação 771
O quarto do padeiro reformado 776
O assalto 790
A mão de Deus 801
Beauchamp 806
A viagem 812
O julgamento 822
A provocação 834
O insulto 840
A Noite 848
O duelo 855
A mãe e o filho 865
O suicídio 871
Valentine 879
A confissão 885
O pai e a filha 895
O contrato 903
A estrada da Bélgica 912
A estalagem do sino e da garrafa 917
A lei 928
A aparição 937
Locusta 943
Valentine 948
Maximilien 953
A assinatura de Danglars 961
O Cemitério do Père-lachaise 970
A partilha 981
O covil dos leões 994
O juiz 1001
No tribunal 1009
O libelo acusatório 1014
Expiação 1021
A partida 1028
O passado 1039
Peppino 1049
A ementa de Luigi Vampa 1058
O Perdão 1064
O 5 de Outubro 1069