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Capítulo 14: O prisioneiro furioso e o prisioneiro louco

Página 104

Calígula ou Nero, esses grandes pesquisadores de tesouros, esses desejosos do impossível, teriam dado ouvidos às palavras do pobre homem e ter-lhe-iam concedido o ar que pretendia, o espaço que avaliava em tão alto preço e a liberdade que se propunha pagar tão cara. Mas os reis dos nossos dias, mantidos nos limites do provável, já não têm a audácia da vontade. Temem o ouvido que escuta as ordens que dão, o olho que perscruta as suas acções; já não sentem a superioridade da sua essência divina; são homens coroados e mais nada. Dantes, julgavam-se, ou pelo menos diziam-se, filhos de Júpiter e possuíam qualquer coisa do deus seu pai

Não se controla facilmente o que se passa para lá das nuvens; hoje os reis deixam-se contactar facilmente.

Ora, como sempre repugnou ao governo despótico mostrar à luz do dia os efeitos da prisão e da tortura; como há poucos exemplos de uma vítima das inquisições ter conseguido reaparecer com os ossos esmagados e as carnes cobertas de chagas ensanguentadas, também a loucura, essa úlcera nascida na imundície das masmorras em consequência das torturas morais, se esconde quase sempre cuidadosamente no local onde surgiu ou, se de lá sai, é para se ir encerrar em qualquer hospital sombrio onde os médicos não reconhecem nem o homem, nem o pensamento no destroço informe que lhe entrega o carcereiro cansado.

O abade Faria, que enlouquecera na prisão, estava condenado, pela sua própria loucura, a prisão perpétua. Quanto a Dantès, o inspector cumpriu a sua palavra. Quando subiu ao gabinete do governador, quis ver o registo do preso. A nota respeitante ao prisioneiro era assim concebida: edmond dantès: Bonapartista fanático. Tomou parte activa no regresso da ilha de Elba. Manter no maior segredo e sob a mais rigorosa vigilância.

Esta nota estava escrita com letra e tinta diferentes das do resto do registo, o que provava que fora acrescentada depois da encarceração de Dantès.

A acusação era demasiado positiva para tentar contrariá-la. O inspector escreveu, pois, por baixo: Nada a fazer.

Esta visita reanimara, por assim dizer, Dantès. Desde que entrara na prisão esquecera-se de contar os dias; mas o inspector dera-lhe uma nova data e Dantès não a esquecera. Escreveu atrás de si, na parede, com um bocado de gesso tirado do tecto, «30 de Julho de 1816», e a partir desse momento fez um risco todos os dias, para a medida do tempo lhe não escapar.

Os dias passaram, depois as semanas e depois os meses. Dantès continuava a esperar. Começara por fixar à sua libertação um prazo de quinze dias. Se dedicasse ao seu caso metade do interesse que parecera experimentar, quinze dias deviam ser suficientes ao inspector. Passados esses quinze dias, disse para consigo que era absurdo da sua parte pensar que o inspector se ocupara dele antes de regressar a Paris.

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Capa do livro O Conde de Monte Cristo
Páginas: 1080
Página atual: 104

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Marselha - A Chegada 1
O pai e o filho 8
Os Catalães 14
A Conspiração 23
O banquete de noivado 28
O substituto do Procurador Régio 38
O interrogatório 47
O Castelo de If 57
A festa de noivado 66
Os Cem Dias 89
O número 34 e o número 27 106
Um sábio italiano 120
A cela do abade 128
O Tesouro 143
O terceiro ataque 153
O cemitério do Castelo de If 162
A Ilha de Tiboulen 167
Os contrabandistas 178
A ilha de Monte-Cristo 185
Deslumbramento 192
O desconhecido 200
A Estalagem da Ponte do Gard 206
O relato 217
Os registos das prisões 228
Acasa Morrel 233
O 5 de Stembro 244
Itália - Simbad, o marinheiro 257
Despertar 278
Bandidos Romanos 283
Aparição 309
A Mazzolata 327
O Carnaval de Roma 340
As Catacumbas de São Sebastião 356
O encontro 369
Os convivas 375
O almoço 392
A apresentação 403
O Sr. Bertuccio 415
A Casa de Auteuil 419
A vendetta 425
A chuva de sangue 444
O crédito ilimitado 454
A parelha pigarça 464
Ideologia 474
Haydée 484
A família Morrel 488
Píramo e Tisbe 496
Toxicologia 505
Roberto, o diabo 519
A alta e a baixa 531
O major Cavalcanti 540
Andrea Cavalcanti 548
O campo de Luzerna 557
O Sr. Noirtier de Villefort 566
O testamento 573
O telégrafo 580
Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588
Os fantasmas 596
O jantar 604
O mendigo 613
Cena conjugal 620
Projetos de casamento 629
No gabinete do Procurador Régio 637
Um baile de Verão 647
As informações 653
O baile 661
O pão e o sal 668
A Sra. de Saint-Méran 672
A promessa 682
O jazigo da família Villefort 705
A ata da sessão 713
Os progressos de Cavalcanti filho 723
Haydée 732
Escrevem-nos de Janina 748
A limonada 762
A acusação 771
O quarto do padeiro reformado 776
O assalto 790
A mão de Deus 801
Beauchamp 806
A viagem 812
O julgamento 822
A provocação 834
O insulto 840
A Noite 848
O duelo 855
A mãe e o filho 865
O suicídio 871
Valentine 879
A confissão 885
O pai e a filha 895
O contrato 903
A estrada da Bélgica 912
A estalagem do sino e da garrafa 917
A lei 928
A aparição 937
Locusta 943
Valentine 948
Maximilien 953
A assinatura de Danglars 961
O Cemitério do Père-lachaise 970
A partilha 981
O covil dos leões 994
O juiz 1001
No tribunal 1009
O libelo acusatório 1014
Expiação 1021
A partida 1028
O passado 1039
Peppino 1049
A ementa de Luigi Vampa 1058
O Perdão 1064
O 5 de Outubro 1069