O Conde de Monte Cristo - Cap. 117: O 5 de Outubro Pág. 1075 / 1080

E levantou-se.

- Está bem - disse Monte-Cristo, cujo rosto se desanuviou ao ouvir aquelas palavras. - Você assim o quer, Morrel, e é inflexível sim, é profundamente infeliz e, como disse, só um milagre o poderia curar. Sente-se, Morrel, e espere.

Morrel obedeceu. Monte-Cristo levantou-se por seu turno e foi buscar a um armário cuidadosamente fechado e de que trazia a chave suspensa de uma corrente de ouro uma caixinha de prata maravilhosamente esculpida e cinzelada, cujos cantos representavam quatro figuras curvadas, semelhantes a essas cariátides de ar desolado, figuras de mulheres, símbolos de anjos que aspiram ao céu.

Pousou a caixinha em cima da mesa.

Depois abriu-a e tirou outra caixinha de ouro cuja tampa se levantava comprimindo uma mola secreta.

Esta caixa continha uma substância gordurosa, meio sólida e de cor indefinível graças ao reflexo do ouro polido, das safiras, dos rubis e das esmeraldas que guarneciam a caixa. Era como que uma cintilação de azul, púrpura e ouro.

O conde tirou uma pequena quantidade da tal substância com uma colher de prata dourada e ofereceu-a a Morrel, fitando-o longamente.

Viu-se então que a substância era esverdeada.

- Aqui tem o que me pediu - disse. - Aqui tem o que lhe prometi

- Ainda vivo - disse o jovem tomando a colher das mãos de Monte-Cristo -, agradeço-lhe do fundo do meu coração.

O conde pegou noutra colher e meteu-a na caixa de ouro.

- Que vai fazer, meu amigo? - perguntou Morrel, detendo-lhe a mão.

- Palavra, Morrel - disse-lhe sorrindo -, creio, Deus me perdoe, que também estou tão cansado da vida como você, e uma vez que se apresenta a oportunidade...

- Pare! - gritou o rapaz. - Oh, o senhor que ama e é amado, o senhor que tem a fé da esperança!... Oh, não faça isso! Da sua parte seria um crime. Adeus, meu nobre e generoso amigo, vou dizer a Valentine tudo o que fez por mim.

E lentamente, sem nenhuma hesitação, com uma pressão da mão esquerda que estendia ao conde, Morrel engoliu, ou antes saboreou a misteriosa substância oferecida por Monte-Cristo.

Então, ambos se calaram. Ali, silencioso e atento, trouxe o tabaco e os narguilés, serviu o café e desapareceu.

Pouco a pouco as lanternas empalideceram nas mãos das estátuas de mármore que as empunhavam e o perfume dos defumadores pareceu menos penetrante a Morrel.

Sentado diante de Monte-Cristo, que o olhava do fundo da sombra, Morrel via apenas brilhar os olhos do conde.

Uma dor imensa apoderou-se do jovem; sentia o narguilé fugir-lhe das mãos; os objectos perdiam insensivelmente a forma e a cor; os seus olhos nublados viam abrir-se como que portas e reposteiros na parede.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069