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Capítulo 117: O 5 de Outubro

Página 1076

- Amigo, sinto que morro; obrigado.

Fez um esforço para lhe estender a mão pela última vez, mas a mão, sem força, caiu junto dele.

Então pareceu-lhe que Monte-Cristo sorria, não já com o seu riso estranho e assustador, que várias vezes lhe deixara entrever os mistérios daquela alma profunda, mas sim com a benevolente compaixão que os pais têm para com os filhos pequenos que fazem disparates.

Ao mesmo tempo, o conde cresceu a seus olhos; a sua figura, quase duas vezes mais alta, desenhava-se nas tapeçarias vermelhas. Atirara para trás os cabelos negros e surgia de pé e orgulhoso como um desses anjos com que se ameaçam os maus no dia do Juízo Final.

Vencido, dominado, Morrel caiu numa poltrona; um torpor suave insinuou-se-lhe nas veias. Uma mutação de ideias enriqueceu-lhe por assim dizer o cérebro, tal como uma nova disposição de desenhos enriquece o caleidoscópio.

Deitado, nervoso, arquejante, Morrel não sentia mais nada vivo em si do que esse sonho; parecia-lhe entrar a todo o pano no vago delírio que precede esse outro desconhecido chamado morte.

Tentou mais uma vez estender a mão ao conde, mas desta feita a mão nem sequer se mexeu; quis articular um supremo adeus, mas a língua enrolou-se-lhe pesadamente na boca, como uma pedra que fechasse um sepulcro.

Os seus olhos carregados de languidez fecharam-se, mal-grado seu. Contudo, atrás das pálpebras agitava-se uma imagem, que reconheceu apesar da escuridão que julgava envolvê-lo.

Era o conde que acabava de abrir uma porta.

Imediatamente uma imensa claridade que brilhava numa sala contígua, ou antes num palácio maravilhoso, inundou a sala onde Morrel se entregava à sua suave agonia. Então viu aparecer no limiar da sala, no limite dos dois aposentos, uma mulher de uma beleza maravilhosa.

Pálida e suavemente sorridente, parecia o anjo da misericórdia conjurando o anjo das vinganças.

- Será já o céu que se abre para mim? - murmurou o moribundo.

- Este anjo parece-se com o que perdi...

Monte-Cristo indicou com o dedo à jovem o sofá onde repousava Morrel.

Ela dirigiu-se para ele, de mãos postas e com um sorriso nos lábios.

- Valentine! Valentine! - gritou Morrel do fundo da alma.

Mas a sua boca não proferiu um som; e como se todas as suas forças estivessem unidas naquela emoção interior, suspirou e fechou os olhos.

Valentine precipitou-se para ele.

Os lábios de Morrel esboçaram ainda um movimento.

- Chama-a - disse o conde. - Chama-a do fundo do seu sono aquele a quem confiara o seu destino e de quem a morte a quis separar.

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Capa do livro O Conde de Monte Cristo
Páginas: 1080
Página atual: 1076

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Marselha - A Chegada 1
O pai e o filho 8
Os Catalães 14
A Conspiração 23
O banquete de noivado 28
O substituto do Procurador Régio 38
O interrogatório 47
O Castelo de If 57
A festa de noivado 66
Os Cem Dias 89
O número 34 e o número 27 106
Um sábio italiano 120
A cela do abade 128
O Tesouro 143
O terceiro ataque 153
O cemitério do Castelo de If 162
A Ilha de Tiboulen 167
Os contrabandistas 178
A ilha de Monte-Cristo 185
Deslumbramento 192
O desconhecido 200
A Estalagem da Ponte do Gard 206
O relato 217
Os registos das prisões 228
Acasa Morrel 233
O 5 de Stembro 244
Itália - Simbad, o marinheiro 257
Despertar 278
Bandidos Romanos 283
Aparição 309
A Mazzolata 327
O Carnaval de Roma 340
As Catacumbas de São Sebastião 356
O encontro 369
Os convivas 375
O almoço 392
A apresentação 403
O Sr. Bertuccio 415
A Casa de Auteuil 419
A vendetta 425
A chuva de sangue 444
O crédito ilimitado 454
A parelha pigarça 464
Ideologia 474
Haydée 484
A família Morrel 488
Píramo e Tisbe 496
Toxicologia 505
Roberto, o diabo 519
A alta e a baixa 531
O major Cavalcanti 540
Andrea Cavalcanti 548
O campo de Luzerna 557
O Sr. Noirtier de Villefort 566
O testamento 573
O telégrafo 580
Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588
Os fantasmas 596
O jantar 604
O mendigo 613
Cena conjugal 620
Projetos de casamento 629
No gabinete do Procurador Régio 637
Um baile de Verão 647
As informações 653
O baile 661
O pão e o sal 668
A Sra. de Saint-Méran 672
A promessa 682
O jazigo da família Villefort 705
A ata da sessão 713
Os progressos de Cavalcanti filho 723
Haydée 732
Escrevem-nos de Janina 748
A limonada 762
A acusação 771
O quarto do padeiro reformado 776
O assalto 790
A mão de Deus 801
Beauchamp 806
A viagem 812
O julgamento 822
A provocação 834
O insulto 840
A Noite 848
O duelo 855
A mãe e o filho 865
O suicídio 871
Valentine 879
A confissão 885
O pai e a filha 895
O contrato 903
A estrada da Bélgica 912
A estalagem do sino e da garrafa 917
A lei 928
A aparição 937
Locusta 943
Valentine 948
Maximilien 953
A assinatura de Danglars 961
O Cemitério do Père-lachaise 970
A partilha 981
O covil dos leões 994
O juiz 1001
No tribunal 1009
O libelo acusatório 1014
Expiação 1021
A partida 1028
O passado 1039
Peppino 1049
A ementa de Luigi Vampa 1058
O Perdão 1064
O 5 de Outubro 1069