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Capítulo 19: O terceiro ataque

Página 158

O remédio produziu um efeito galvânico. Um tremor violento sacudiu os membros do velho, os seus olhos abriram-se com expressão assustadora, soltou um suspiro que mais parecia um grito e em seguida todo aquele corpo trémulo voltou pouco a pouco à imobilidade.

Somente os olhos permaneceram abertos.

Passaram meia hora, uma hora, hora e meia. Durante esta hora e meia de angústia, Edmond, inclinado sobre o amigo com a mão no seu coração, sentiu sucessivamente aquele corpo arrefecer e as pulsações do coração, cada vez mais abafadas e profundas, extinguirem-se.

Por fim, nada sobreviveu; o derradeiro batimento do coração cessou, o rosto enlivideceu e os olhos ficaram abertos, mas o olhar morreu.

Eram seis horas da manhã, o Sol começava a romper e os seus raios mortiços invadiam a masmorra e faziam empalidecer a luz prestes a extinguir-se da candeia. Reflexos estranhos passavam pelo rosto do cadáver, dando-lhe de vez em quando aparências de vida. Enquanto durou aquela luta do dia e da noite, Dantès ainda pôde duvidar; mas logo que o dia levou a melhor compreendeu que estava sozinho com um cadáver.

Então, apoderou-se de si um terror profundo e invencível. Não se atreveu mais a apertar aquela mão que pendia fora da cama, nem ousou mais pousar os olhos naqueles olhos fixos e brancos que tentou várias vezes, mas inutilmente, fechar, e que se reabriam sempre. Apagou a lamparina, escondeu-a cuidadosamentee fugiu, tendo o cuidado de colocar o melhor possível a laje por cima da cabeça.

Aliás, era tempo, pois o carcereiro aproximava-se.

Desta vez começou a sua visita por Dantès. Depois de sair da sua cela, dirigiu-se para a de Faria, a quem ia levar o pequeno-almoço e roupa.

Nada indicava no homem que tivesse conhecimento do que acontecera. Saiu.

Dantès foi então dominado por uma indizível impaciência de saber o que se iria passar na cela do seu pobre amigo. Voltou portanto a entrar na galeria subterrânea e chegou a tempo de ouvir as exclamações do carcereiro, que pedia socorro.

Não tardaram a entrar os outros carcereiros. Em seguida ouviram-se os passos pesados e regulares habituais dos soldados, mesmo fora do serviço. Atrás dos soldados chegou o governador.

Edmond ouviu o ruído da cama ao sacudirem o cadáver. Ouviu também o governador ordenar que lhe deitassem água na cara e depois, vendo que apesar disso o prisioneiro não dava acordo de si, mandar chamar o médico.

O governador saiu. Aos ouvidos de Dantès chegaram algumas palavras de compaixão de mistura com risos de troça.

- Pronto, pronto - dizia um -, o louco foi juntar-se aos seus tesouros. Boa viagem!

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Capa do livro O Conde de Monte Cristo
Páginas: 1080
Página atual: 158

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Marselha - A Chegada 1
O pai e o filho 8
Os Catalães 14
A Conspiração 23
O banquete de noivado 28
O substituto do Procurador Régio 38
O interrogatório 47
O Castelo de If 57
A festa de noivado 66
Os Cem Dias 89
O número 34 e o número 27 106
Um sábio italiano 120
A cela do abade 128
O Tesouro 143
O terceiro ataque 153
O cemitério do Castelo de If 162
A Ilha de Tiboulen 167
Os contrabandistas 178
A ilha de Monte-Cristo 185
Deslumbramento 192
O desconhecido 200
A Estalagem da Ponte do Gard 206
O relato 217
Os registos das prisões 228
Acasa Morrel 233
O 5 de Stembro 244
Itália - Simbad, o marinheiro 257
Despertar 278
Bandidos Romanos 283
Aparição 309
A Mazzolata 327
O Carnaval de Roma 340
As Catacumbas de São Sebastião 356
O encontro 369
Os convivas 375
O almoço 392
A apresentação 403
O Sr. Bertuccio 415
A Casa de Auteuil 419
A vendetta 425
A chuva de sangue 444
O crédito ilimitado 454
A parelha pigarça 464
Ideologia 474
Haydée 484
A família Morrel 488
Píramo e Tisbe 496
Toxicologia 505
Roberto, o diabo 519
A alta e a baixa 531
O major Cavalcanti 540
Andrea Cavalcanti 548
O campo de Luzerna 557
O Sr. Noirtier de Villefort 566
O testamento 573
O telégrafo 580
Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588
Os fantasmas 596
O jantar 604
O mendigo 613
Cena conjugal 620
Projetos de casamento 629
No gabinete do Procurador Régio 637
Um baile de Verão 647
As informações 653
O baile 661
O pão e o sal 668
A Sra. de Saint-Méran 672
A promessa 682
O jazigo da família Villefort 705
A ata da sessão 713
Os progressos de Cavalcanti filho 723
Haydée 732
Escrevem-nos de Janina 748
A limonada 762
A acusação 771
O quarto do padeiro reformado 776
O assalto 790
A mão de Deus 801
Beauchamp 806
A viagem 812
O julgamento 822
A provocação 834
O insulto 840
A Noite 848
O duelo 855
A mãe e o filho 865
O suicídio 871
Valentine 879
A confissão 885
O pai e a filha 895
O contrato 903
A estrada da Bélgica 912
A estalagem do sino e da garrafa 917
A lei 928
A aparição 937
Locusta 943
Valentine 948
Maximilien 953
A assinatura de Danglars 961
O Cemitério do Père-lachaise 970
A partilha 981
O covil dos leões 994
O juiz 1001
No tribunal 1009
O libelo acusatório 1014
Expiação 1021
A partida 1028
O passado 1039
Peppino 1049
A ementa de Luigi Vampa 1058
O Perdão 1064
O 5 de Outubro 1069