O Conde de Monte Cristo - Cap. 22: Os contrabandistas Pág. 181 / 1080

Dantès pensava, enquanto passava ao largo daquela ilha de nome tão ressoante para ele, que lhe bastaria lançar-se ao mar para dentro de meia hora se encontrar naquela terra prometida. Mas que faria lá, sem instrumentos para descobrir o seu tesouro nem armas para o defender? Além disso, que diriam os marinheiros? Que pensaria o patrão? Era necessário esperar.

Felizmente, Dantès sabia esperar. Esperara catorze anos pela liberdade: podia muito bem, agora que estava livre, esperar seis meses ou um ano pela riqueza. Não teria aceitado a liberdade sem a riqueza, se lha tivessem oferecido?

Aliás, não era essa riqueza uma quimera? Nascida no cérebro enfermo do pobre abade Faria, não teria morrido com ele?

De facto a carta do cardeal Spada era singularmente precisa...

E Dantès repetia de ponta a ponta, na memória, essa carta, de que não esquecera uma palavra.

Anoiteceu. Edmond viu a ilha passar por todas as cores que o crepúsculo traz consigo e desaparecer para toda a gente nas trevas. Mas ele, com o seu olhar habituado à obscuridade da prisão, continuou sem dúvida a vê-la, pois foi o último a deixar a coberta.

No dia seguinte acordaram à vista de Aleria. Mantiveram o mesmo rumo durante todo o dia e à noite acenderam-se fogueiras na costa. Pela disposição dessas fogueiras reconheceu-se, decerto, que se podia desembarcar, porque em vez do pavilhão subiu na carangueja uma lanterna e o navio aproximou-se da costa até ficar ao alcance de um tiro de espingarda.

Dantès notara que, sem dúvida devido à solenidade daquelas ocasiões, o patrão da Jeune-Amélie montara no seu reparo, ao aproximar-se de terra, duas pequenas colubrinas idênticas a espingardas de fortaleza, que, sem fazerem grande barulho, podiam atirar uma boa bala de quarto de libra a mil passos de distância.

Mas naquela noite a precaução foi supérflua; tudo se passou com a maior calma e correcção do mundo. Quatro chalupas aproximaram-se quase sem ruído do navio, que sem dúvida para as honrar deitou a sua própria chalupa ao mar. O caso é que as cinco chalupas trabalharam tão bem que às duas horas da madrugada todo o carregamento passara de bordo da Jeune- Amélie para terra firme.

Nessa mesma noite, de tal modo o patrão da Jeune-Amélie era homem de ordem, procedeu-se à distribuição do bolo: cada homem recebeu cem libras toscanas de quinhão, isto é, cerca de oitenta francos na nossa moeda.

Mas a expedição ainda não terminara. Aproaram à Sardenha. Tratava-se de ir recarregar o navio que acabava de se descarregar. A segunda operação decorreu com tanto êxito como a primeira; a Jeune-Amélie estava em maré de sorte.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069