Com o auxílio da enxada, Dantès abriu entre o rochedo superior e o que lhe servia de base um canal de mina como costumam fazer os sapadores quando querem poupar ao braço do homem uma fadiga demasiado grande, e depois encheu-o de pólvora. Em seguida, desfiou o lenço, impregnou-o de pólvora e fez dele uma mecha.
Largou toco à mecha e afastou-se.
A explosão não tardou: o rochedo superior foi por momentos erguido da sua base pela força incalculável desencadeada e o rochedo interior voou em estilhas. Pela aberturazinha que Dantès praticara inicialmente fugiu toda a espécie de insectos palpitantes e uma cobra enorme, guarda daquele caminho misterioso, rolou sobre as suas volutas azuladas e desapareceu.
Dantès aproximou-se: o rochedo superior, agora sem apoio, inclinava-se para o abismo. O intrépido pesquisador contornou-o, escolheu o sítio mais vacilante, apoiou a alavanca numa das arestas e, como Sísifo, retesou-se com toda a força contra o rochedo.
Este, já abalado pela explosão, cambaleou. Dantès redobrou de esforços. Dir-se-ia um daqueles Titãs que arrancavam montanhas da sua base para guerrearem o senhor dos deuses. Por fim o rochedo cedeu, rolou, saltou, precipitou-se e desapareceu engolido pelo mar.
Deixou a descoberto um espaço circular e à vista uma argola de ferro cravada no meio de uma laje quadrada.
Dantès soltou um grito de alegria e surpresa. Nunca tão magnífico resultado coroara uma primeira tentativa.
Quis continuar, mas as pernas tremiam-lhe tanto, o coração pulsava-lhe com tanta violência e cobria-lhe os olhos uma nuvem tão ardente que foi obrigado a parar.
Mas esse momento de hesitação teve a duração do relâmpago. Edmond meteu a alavanca na argola, levantou-a vigorosamente e a laje soltou-se, abriu-se e descobriu a rampa inclinada de uma espécie de escada que mergulhava na sombra de uma gruta cada vez mais escura.
Outro ter-se-ia precipitado e soltado exclamações de alegria; Dantès deteve-se, pálido e desconfiado.
«Então, sejamos homem!», disse para consigo. «Habituados à adversidade, não nos deixemos abater por uma decepção. De contrário, teríamos sofrido para nada. O coração fraqueja quando, depois de ser dilatado para além das marcas pelo hálito tépido da esperança, reentra e se reencerra na fria realidade. Faria sonhou: o cardeal Spada não escondeu nada nesta gruta, talvez até nunca cá tenha vindo, ou, se veio, César Bórgia, o intrépido aventureiro, o infatigável e sombrio ladrão, veio cá depois dele, descobriu-lhe a pista, seguiu os mesmos sinais que eu segui, levantou esta pedra como eu levantei e, descendo primeiro do que eu, não deixou nada para mim.»