O Conde de Monte Cristo - Cap. 29: Acasa Morrel Pág. 235 / 1080

Foi Emmanuel quem o recebeu. O rapaz, a quem cada nova cara assustava, porque cada cara nova anunciava um novo credor que, na sua preocupação, vinha atormentar o patrão, o rapaz, dizíamos, quis poupar a esse mesmo patrão os incómodos daquela visita e perguntou ao visitante o que pretendia. Mas o visitante declarou que não tinha nada a dizer ao Sr. Emmanuel e que era com o Sr. Morrel em pessoa que desejava falar Emmanuel chamou, suspirando, Coclès. Coclès apareceu e o rapaz ordenou-lhe que acompanhasse o estrangeiro ao Sr. Morrel.

Coclès foi à frente e o estrangeiro seguiu-o.

Na escada encontraram-se com uma bonita rapariga de dezasseis a dezassete anos, que olhou o estrangeiro com inquietação.

Coclès não notou tal expressão do rosto da jovem, que no entanto pareceu não ter escapado ao estrangeiro.

- O Sr. Morrel está no seu gabinete, não está, Mademoiselle Julie? - perguntou o tesoureiro.

- Está... Pelo menos creio que está - respondeu a rapariga, hesitando.

- Veja primeiro, Coclès, e se o meu pai lá estiver anuncie esse senhor.

- Anunciar-me seria inútil, menina - respondeu o inglês. - o Sr. Morrel não conhece o meu nome. Este bom homem tem de dizer apenas que sou o chefe de escritório da firma Thomson & French, de Roma, com a qual a casa do senhor seu pai mantém relações.

A jovem empalideceu e continuou a descer, enquanto Coclès e o estrangeiro continuavam a subir.

Ela entrou no escritório onde se encontrava Emmanuel e Coclès puxou de uma chave de que era possuidor, o que denotava a confiança que o patrão depositava nele, abriu a porta situada no canto do patamar do segundo andar, introduziu o estrangeiro numa antecâmara, abriu segunda porta que fechou atrás de si e, depois de ter deixado por um instante sozinho o enviado da casa Thomson & French reapareceu e fez-lhe sinal de que podia entrar.

O inglês entrou. Encontrou o Sr. Morrel sentado a uma secretária, pálido perante as colunas assustadoras do registo onde estava inscrito o seu passivo.

Ao ver o estrangeiro, o Sr. Morrel fechou o registo, levantou-se e puxou uma cadeira. Depois, quando viu o estrangeiro sentar-se, sentou-se também.

Catorze anos tinham modificado muito o digno negociante, o qual contava trinta e seis anos no início desta história e estava agora prestes a chegar aos cinquenta. Os cabelos tinham-lhe embranquecido e a sua testa estava sulcada de rugas de preocupação. Por último, o seu olhar, outrora tão firme e decidido, tornara-se vago e irresoluto e parecia recear constantemente ser forçado a deter-se numa ideia ou num homem.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069