O Conde de Monte Cristo - Cap. 32: Despertar Pág. 279 / 1080

Mas espera que o desculpeis quando souberdes que um assunto urgentíssimo o chamou a Málaga.

- Ora ainda bem, meu caro Gaetano - disse Franz -, que tudo isto é realmente verdade. Existe de facto um homem que me recebeu nesta ilha, me concedeu uma hospitalidade régia e partiu enquanto eu dormia?

- Tanto existe que ainda se vê o seu iatezinho afastar-se, com todas as velas içadas, e se Vossa Excelência pegar no seu óculo de longo alcance reconhecerá, muito provavelmente, o seu anfitrião no meio dos seus tripulantes.

Ao dizer estas palavras, Gaetano estendia o braço na direcção de um naviozinho que navegava na direcção da ponta meridional da Córsega.

Franz pegou no óculo, regulou-o e apontou-o para o local indicado.

Gaetano não se enganara. À ré do navio, o misterioso estrangeiro recortava-se de pé, virado para o lado de Franz, e tendo como este um óculo na mão. Envergava ainda a indumentária com que aparecera na véspera ao seu conviva e agitava o lenço em sinal de despedida.

Franz retribuiu-lhe a saudação tirando por sua vez o lenço da algibeira e agitando-o como ele agitava o seu.

Passado um segundo, formou-se à popa do navio uma leve nuvem de fumo, que se afastou graciosamente da ré e subiu lentamente para o céu. Em seguida chegou aos ouvidos de Franz uma fraca detonação.

- Veja, ouça! - exclamou Gaetano. - Está a dizer-lhe adeus!

O jovem pegou na carabina e descarregou-a no ar, mas sem esperança de que os estampidos conseguissem transpor a distância que separava o iate da costa.

- Que ordena Vossa Excelência? - perguntou Gaetano.

- Primeiro, que me acenda um archote.

- Ah, sim, compreendo! - exclamou o patrão. - Quer procurar a entrada do palácio encantado. à vontade, Excelência. Se isso o diverte, vou dar-lhe o archote que pretende. Eu também já fui dominado por essa ideia e tentei três ou quatro vezes, mas acabei por desistir. Giovanni - acrescentou -, acende um archote e trá-lo a Sua Excelência.

Giovanni obedeceu. Franz pegou no archote e entrou no subterrâneo, seguido de Gaetano.

Reconheceu o lugar onde acordara, no seu leito de urzes ainda todo pisado; mas em vão passeou o archote por toda a superfície exterior da gruta: não viu nada, excepto vestígios de fumo doutros que antes dele já tinham tentado inutilmente a mesma investigação.

Contudo, não deixou um pé daquela muralha granítica, impenetrável como o futuro, por examinar. Não viu uma fenda onde não introduzisse a lâmina da sua faca de caça; não notou um ponto saliente em que não carregasse, na esperança de que cedesse, mas tudo foi inútil e perdeu sem nenhum resultado duas horas de buscas.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069