Mas espera que o desculpeis quando souberdes que um assunto urgentíssimo o chamou a Málaga.
- Ora ainda bem, meu caro Gaetano - disse Franz -, que tudo isto é realmente verdade. Existe de facto um homem que me recebeu nesta ilha, me concedeu uma hospitalidade régia e partiu enquanto eu dormia?
- Tanto existe que ainda se vê o seu iatezinho afastar-se, com todas as velas içadas, e se Vossa Excelência pegar no seu óculo de longo alcance reconhecerá, muito provavelmente, o seu anfitrião no meio dos seus tripulantes.
Ao dizer estas palavras, Gaetano estendia o braço na direcção de um naviozinho que navegava na direcção da ponta meridional da Córsega.
Franz pegou no óculo, regulou-o e apontou-o para o local indicado.
Gaetano não se enganara. À ré do navio, o misterioso estrangeiro recortava-se de pé, virado para o lado de Franz, e tendo como este um óculo na mão. Envergava ainda a indumentária com que aparecera na véspera ao seu conviva e agitava o lenço em sinal de despedida.
Franz retribuiu-lhe a saudação tirando por sua vez o lenço da algibeira e agitando-o como ele agitava o seu.
Passado um segundo, formou-se à popa do navio uma leve nuvem de fumo, que se afastou graciosamente da ré e subiu lentamente para o céu. Em seguida chegou aos ouvidos de Franz uma fraca detonação.
- Veja, ouça! - exclamou Gaetano. - Está a dizer-lhe adeus!
O jovem pegou na carabina e descarregou-a no ar, mas sem esperança de que os estampidos conseguissem transpor a distância que separava o iate da costa.
- Que ordena Vossa Excelência? - perguntou Gaetano.
- Primeiro, que me acenda um archote.
- Ah, sim, compreendo! - exclamou o patrão. - Quer procurar a entrada do palácio encantado. à vontade, Excelência. Se isso o diverte, vou dar-lhe o archote que pretende. Eu também já fui dominado por essa ideia e tentei três ou quatro vezes, mas acabei por desistir. Giovanni - acrescentou -, acende um archote e trá-lo a Sua Excelência.
Giovanni obedeceu. Franz pegou no archote e entrou no subterrâneo, seguido de Gaetano.
Reconheceu o lugar onde acordara, no seu leito de urzes ainda todo pisado; mas em vão passeou o archote por toda a superfície exterior da gruta: não viu nada, excepto vestígios de fumo doutros que antes dele já tinham tentado inutilmente a mesma investigação.
Contudo, não deixou um pé daquela muralha granítica, impenetrável como o futuro, por examinar. Não viu uma fenda onde não introduzisse a lâmina da sua faca de caça; não notou um ponto saliente em que não carregasse, na esperança de que cedesse, mas tudo foi inútil e perdeu sem nenhum resultado duas horas de buscas.