- Sr. Visconde - volveu-lhe mestre Pastrini, ainda ferido até ao fundo do coração pela dúvida manifestada por Albert acerca da veracidade das suas palavras -, não digo isto por Vossa Excelência, digo-o pelo seu companheiro de viagem, que conhece Roma e sabe que se não brinca com estas coisas.
- Meu caro - disse Albert dirigindo-se a Franz -, aí está uma aventura admirável e natural: carregamos a nossa caleça de pistolas, bacamartes e espingardas de dois tiros. Luigi Vampa vem para nos prender, mas nós é que o prendemos. Trazemo-lo para Roma, em homenagem a Sua Santidade, que nos pergunta o que pode fazer para recompensar tão grande serviço. Então, pedimos pura e simplesmente um coche e dois cavalos das suas cavalariças e assistimos ao Carnaval de carruagem. Sem contar que provavelmente o povo romano, reconhecido, nos coroará no Capitólio e nos proclamará, como Cúrcio e Horácio Cocles, salvadores da pátria.
Enquanto Albert proferia estas palavras, mestre Pastrini fazia uma cara que em vão tentaríamos descrever.
- Antes de mais nada, onde arranjaria as pistolas, os bacamartes e as espingardas de dois tiros para encher a carruagem? - perguntou Franz a Albert.
- Garanto-lhe que não será no meu arsenal, porque em Terracina tiraram-me até a minha faca-punhal. E a você?
- A mim fizeram-me o mesmo em Aqua-Pendente.
- Aqui tem, meu caro hoteleiro! - exclamou Albert, acendendo segundo charuto na ponta do primeiro. - Sabe que é muito cómoda para os ladrões essa medida, que para mim tem todo o ar de ter sido tomada contas a meias com eles?
Mestre Pastrini achou sem dúvida o gracejo comprometedor, pois só respondeu em parte, e mesmo assim dirigindo a palavra a Franz, como se este fosse a única pessoa sensata com quem se pudesse entender convenientemente.
- Vossa Excelência sabe que não é hábito as pessoas defenderem-se quando são atacadas por bandidos.
- Como?! - exclamou Albert, cuja coragem se revoltava à ideia de se deixar roubar sem dizer nada. - Como? Não é hábito?...
- Não! Porque toda a defesa seria inútil. Que quer fazer contra uma dúzia de bandidos que saem de um fosso, de um pardieiro ou de um aqueduto e que o visam todos ao mesmo tempo?
- Com mil demónios, quero que me matem! - gritou Albert
O hoteleiro virou-se para Franz com um ar que queria dizer: «Decididamente, Excelência, o seu companheiro é louco.”
- Meu caro Albert - declarou Franz -, a sua resposta é sublime e vale o Qu'il mourût do velho Corneille. Simplesmente, quando Horácio respondia isso tratava-se da salvação de Roma e a coisa valia a pena. Mas quanto a nós repare que se trata simplesmente da satisfação de um capricho e que seria ridículo, por um capricho, arriscarmos a vida.