»Desde o dia em que o bandido fora salvo pelos dois jovens, ficara apaixonado por Teresa e jurara que a rapariga seria sua. A partir desse dia, espiara-a. E, aproveitando o momento em que o rapaz a deixara sozinha para indicar o caminho ao viajante, raptara-a e julgava-se já senhor dela quando a bala de Vampa, guiada pela pontaria infalível do jovem pastor, lhe traspassara o coração.
»Vampa, olhou-o um instante sem a menor emoção, enquanto Teresa, pelo contrário, ainda toda trémula, não ousava aproximar-se do bandido morto senão em passinhos curtos e deitava hesitante uma olhadela ao cadáver por cima do ombro do amado.
»Passado um instante, Vampa virou-se para a noiva e disse:
»- Ah, ah, já estás vestida!... Vou vestir-me também.
»- Com efeito, Teresa trazia, da cabeça aos pés, o traje da filha do conde de San-Felice.
»Vampa, pegou no corpo de Cucumetto e levou-o para a gruta, enquanto Teresa ficava cá fora.
»Se tivesse passado segundo viajante, veria uma coisa estranha: uma pastora a guardar as suas ovelhas com um vestido de caxemira, brincos e um colar de pérolas, alfinetes de diamantes e botões de safiras, esmeraldas e rubis.
»Sem dúvida julgar-se-ia regressado ao tempo de Floriano e afirmaria, ao regressar a Paris, que encontrara a pastora dos Alpes sentada ao pé dos montes Sabinos.
»Passado um quarto de hora, Vampa saiu por sua vez da gruta. O seu traje não era menos elegante, no seu género, do que o de Teresa.
»Trazia uma jaqueta de veludo carmesim, com botões de ouro cinzelado, colete de seda todo coberto de bordados, um lenço romano atado ao pescoço, uma cartucheira toda adornada de ouro e seda encarnada e verde, calções de veludo azul-celeste presos por baixo do joelho com fivelas de diamantes, polainas de pele de gamo adornadas com mil arabescos coloridos e chapéu onde adejavam fitas de todas as cores. Pendiam-lhe da cintura dois relógios e trazia entalado na cartucheira um magnífico punhal.
»Teresa soltou um grito de admiração. Assim vestido, Vampa lembrava um quadro de Léopold Robert ou de Schnetz.
»Envergara o traje completo de Cucumetto.
»O rapaz notou o efeito que produzia sobre a noiva e um sorriso de orgulho entreabriu-lhe a boca.
»- Agora - perguntou a Teresa -, estás pronta a compartilhar a minha sorte qualquer que ela seja?
»- Estou! - gritou a rapariga com entusiasmo.
»- A seguir-me para toda a parte onde for?
»- Até ao fim do mundo.
»- Então, toma o meu braço e partamos, porque não temos tempo a perder.
»A rapariga passou o braço pelo do noivo sem sequer lhe perguntar para onde a levava. Naquele momento, parecia-lhe belo, orgulhoso e forte como um deus.