- Já deu conta a alguém dessa ideia genial?
- Ao nosso hoteleiro. Quando entrei, mandei-o chamar e expus-lhe os meus desejos. Garantiu-me que não havia nada mais fácil. Eu queria mandar dourar os cornos dos bois, mas ele disse-me que para isso seriam precisos três dias. Teremos portanto de passar sem essa ninharia.
- Onde está ele?
- Quem?
- O nosso hoteleiro?
- À procura do que pretendemos. Amanhã talvez fosse já um bocadinho tarde.
- De forma que nos dará a resposta ainda esta noite?
- Espero-o.
Neste momento a porta abriu-se e mestre Pastrini meteu a cabeça.
- Permesso? - pediu.
- Claro que pode entrar! - exclamou Franz.
- Então, arranjou-nos a carroça e os bois que pretendíamos? - perguntou Albert
- Arranjei melhor do que isso - respondeu o hoteleiro, com ar de quem está plenamente satisfeito consigo mesmo.
- Cautela, meu caro anfitrião - observou Albert. - Olhe que o óptimo é inimigo do bom.
- Confiem em mim, Excelências - redarguiu mestre Pastrini em tom convicto.
- Mas, enfim, que há? - perguntou Franz por seu turno.
- Sabem - disse o hoteleiro - que o conde de Monte-Cristo ocupa o mesmo andar que os senhores?
- Sabemos - respondeu Albert -, pois é graças a ele que estamos instalados como dois estudantes da Rua Saint-Nicolas-du-Chardounet
- Pois sabendo da dificuldade em que se encontram, manda oferecer-lhes dois lugares na sua carruagem e dois lugares nas suas janelas do Palácio Rospoli.
Albert e Franz entreolharam-se.
- Mas - perguntou Albert - deveremos aceitar a oferta desse estrangeiro, de um homem que não conhecemos?
- Que homem é esse conde de Monte-Cristo? - perguntou Franz ao hoteleiro.
- Um grandíssimo fidalgo siciliano ou maltês, não sei ao certo, mas nobre como um Borghèse e rico como uma mina de ouro.
- Parece-me - observou Franz a Albert - que se esse homem tivesse tão boas maneiras como diz o nosso hoteleiro, deveria enviar-nos o seu convite doutra maneira, quer escrevendo-nos, quer...
Neste momento bateram à porta.
- Entre - disse Franz.
Um criado de libré perfeitamente elegante apareceu à entrada do quarto.
- Da parte do conde de Monte-Cristo para o Sr. Franz de Epinay e para o Sr. Visconde Albert de Morcerf - disse.
E apresentou ao hoteleiro duas cartas que este entregou aos jovens.
- O Sr. Conde de Monte-Cristo - continuou o criado - manda pedir a esses senhores licença para se apresentar como vizinho amanhã de manhã nos seus aposentos. Ele terá a honra de se informar junto desses senhores a que horas estarão visíveis.