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Em todo o caso, que o golpe recaia sobre quem o desferiu.
- Esqueces-te daquele que o aconselhou - redarguiu Caderousse.
- Diabos te levem, como se um homem fosse responsável por tudo o que diz no ar! - E é, quando o que diz no ar fere alguém.
Entretanto, os grupos comentavam a prisão em todos os tons.
- E você, Danglars, que pensa disto? - perguntou uma voz.
- Por mim - respondeu Danglars - creio que terá trazido alguns fardos de mercadorias proibidas.
- Mas se fosse isso você devê-lo-ia saber, Danglars, visto ser o guarda-livros.
- Sim, é verdade, mas o guarda-livros só conhece as mercadorias que lhe declaram. Sei que carregamos algodão e mais nada; que o carregamento foi embarcado em Alexandria pelo Sr. Pastret e em Esmirna pelo Sr. Pascal; não me perguntem mais nada.
- Oh, agora me lembro! - murmurou o pobre pai, agarrando-se a esse destroço. - Agora me lembro ter-me dito ontem que trazia para mim uma caixa de café e uma caixa de tabaco.
- Vê? - disse Danglars. - Deve ser isso. Na nossa ausência a alfândega terá feito uma visita a bordo do Pharaon e descoberto a marosca.
Mas Mercédès não acreditava em nada daquilo. Refreada até ali, a sua dor desfez-se de súbito em soluços.
- Então, então, é preciso ter esperança! - disse sem saber muito bem o que dizia o Tio Dantès.
- Sim, esperança - repetiu Danglars.
- Esperança - tentou murmurar Fernand.
Mas a palavra sufocava-o. Agitou os lábios e não conseguiu que nenhum som lhe saísse da boca.
- Senhores! - gritou um dos convivas que ficara de atalaia na balaustrada. - Senhores, uma carruagem! Ah, é o Sr. Morrel! Coragem, coragem! Traz-nos com certeza boas notícias.
Mercédès e o velho pai correram ao encontro do armador, que encontraram à porta. O Sr. Morrel estava muito pálido.
- Então? - perguntaram ao mesmo tempo.
- Então, meus amigos - respondeu o armador abanando a cabeça - o caso é mais grave do que nós pensávamos.
- Mas, senhor, ele está inocente! - gritou Mercédès.
- Acredito - respondeu o Sr. Morrel. - Mas acusam-no...
- De quê? - perguntou o velho Dantès.
- De ser agente bonapartista.
Aqueles dos meus leitores que viveram na época em que se passa esta história recordar-se-ão que terrível acusação era então aquela que o Sr. Morrel acabava de formular.
Mercédès soltou um grito; o velho deixou-se cair numa cadeira.
- Ah! - murmurou Caderousse. - Vocês enganaram-me, Danglars, e pregaram a partida a Dantès. Mas não quero ver morrer de dor esse velho e essa rapariga e vou dizer-lhes tudo.