- Duzentos ou trezentos escudos romanos...
- Diga dois ou três mil.
- Demónio!
- É a sua ilha que lhe dá tão bom rendimento?
- A sua ilha? Não lhe rende nem um chavo.
- Nesse caso, porque a comprou?
- Por capricho.
- Trata-se portanto de um original?
- Efectivamente - declarou Albert -, pareceu-me bastante excêntrico. Se morasse em Paris e frequentasse os nossos espectáculos, dir-lhe-ia, meu caro, que se tratava de um brincalhão de mau gosto cheio de pose ou de um pobre diabo que a literatura não soube aproveitar. Na realidade, teve esta manhã duas ou três saídas dignas de Didier ou de Antony.
Neste momento entrou uma visita e, segundo o uso, Franz cedeu o seu lugar ao recém-chegado. Esta circunstância, além da troca de lugares, teve ainda como resultado mudar o tema da conversa. Uma hora mais tarde, os dois amigos regressaram ao hotel.
Mestre Pastrini ocupara-se já das suas máscaras para o dia seguinte e prometeu-lhes que ficariam satisfeitos com a sua inteligente actividade.
Com efeito, no dia seguinte às nove horas entrava no quarto de Franz com um alfaiate carregado com oito ou dez trajes de camponês romano. Os dois amigos escolheram dois iguais, mais ou menos à medida do seu corpo, e encarregaram o hoteleiro de lhes mandar pregar uns vinte metros de fitas em cada chapéu e de lhes arranjar dois desses encantadores lenços de seda de barras transversais e cores vivas com que os homens do povo têm o hábito, nos dias de festa, de apertar a cintura.
Albert tinha pressa de ver como lhe ficaria o seu novo traje, o qual se compunha de uma jaqueta e de uns calções de veludo azul, meias bordadas, sapatos de fivela e colete de seda.
Aliás, Albert só podia ser beneficiado com este traje pitoresco. E quando cingiu com aquela espécie de faixa a cintura elegante, e o chapéu, ligeiramente inclinado para um lado, lhe deixou cair sobre o ombro ondas de fitas, Franz foi obrigado a confessar que o traje representa quase sempre muito na superioridade física que concedemos a certos povos. Os turcos, dantes tão pitorescos com as suas longas túnicas de cores vivas, não são agora ridículos com as suas sobrecasacas azuis abotoadas e os seus barretes gregos que lhes dão o ar de garrafas de vinho de cápsula vermelha? Franz felicitou Albert, que, de resto, de pé diante do espelho, sorria com um ar de satisfação que não tinha nada de equívoco.
Estavam nisto quando o conde de Monte-Cristo entrou.
- Meus senhores - disse-lhes -, como por mais agradável que seja um companheiro de prazer a liberdade é ainda mais agradável, venho dizer-lhes que hoje e nos dias seguintes deixo à sua disposição a carruagem de que se serviram ontem.