- Meu caro - redarguiu Albert com uma tranquilidade de espírito perfeita - fixe bem daqui em diante esta máxima de Napoleão, o Grande: «Acordem-me só se houver más notícias.» Se me tivesse deixado dormir, terminava o meu galope e ficar-lhe-ia reconhecido toda a vida... Pagaram o meu resgate?
- Não, Excelência.
- Então como é que estou livre?
- Alguém a quem não posso recusar nada veio reclamá-lo.
- Aqui?
- Aqui.
- Por Deus, que pessoa tão amável! Albert olhou à sua volta e viu Franz.
- Como, foi você, meu caro Franz, que levou a sua dedicação a este ponto? - perguntou.
- Não fui eu -respondeu Franz -, mas sim o nosso vizinho, o Sr. Conde de Monte-Cristo.
- Com a breca, Sr. Conde - disse alegremente Albert, endireitando a gravata e os punhos -, o senhor é um homem realmente precioso, e espero que me considere um seu devedor eternamente grato, primeiro pelo empréstimo da carruagem e depois por isto! - e estendeu a mão ao conde, que estremeceu no momento de lhe dar a sua, mas que mesmo assim não lha recusou.
O bandido olhava toda esta cena com ar estupefacto. Estava evidentemente habituado a ver os seus prisioneiros tremer diante dele, mas havia ali um cujo temperamento brincalhão não se alterara absolutamente nada. Quanto a Franz, estava encantado por Albert ter sustentado, mesmo perante um bandido, a honra nacional.
- Meu caro Albert - disse-lhe -, se se despachar, ainda teremos tempo de ir acabar a noite em casa de Torlonia.
Retomará o seu galope no ponto em que o interrompeu, de modo que não guardará nenhum rancor ao Sr. Luigi, que em todo este caso se comportou realmente como um cavalheiro.
- Ah, não há dúvida que tem razão! - concordou Albert.
- Poderemos lá estar antes das duas horas. Sr. Luigi - continuou -, há alguma formalidade a cumprir para se despedir de Vossa Excelência?
- Nenhuma, senhor - respondeu o bandido. - Está livre como o ar.
- Nesse caso, boa e alegre vida. Venham, senhores, venham! E Albert, seguido de Franz e do conde, desceu a escada e atravessou a grande sala quadrada. Todos os bandidos estavam de pé e de chapéu na mão.
- Peppino - disse o chefe -, dá-me o archote.
- Que vai fazer? - perguntou o conde.
- Acompanhá-los - respondeu o capitão. - É a mais pequena honra que posso prestar a Vossa Excelência.
E tomando o archote das mãos do pastor, caminhou adiante dos visitantes, não como um criado que se desempenha de uma tarefa servil, mas sim como um rei que precede embaixadores.
Chegado à porta, inclinou-se.