O Conde de Monte Cristo - Cap. 37: As Catacumbas de São Sebastião Pág. 367 / 1080

- Meu caro - redarguiu Albert com uma tranquilidade de espírito perfeita - fixe bem daqui em diante esta máxima de Napoleão, o Grande: «Acordem-me só se houver más notícias.» Se me tivesse deixado dormir, terminava o meu galope e ficar-lhe-ia reconhecido toda a vida... Pagaram o meu resgate?

- Não, Excelência.

- Então como é que estou livre?

- Alguém a quem não posso recusar nada veio reclamá-lo.

- Aqui?

- Aqui.

- Por Deus, que pessoa tão amável! Albert olhou à sua volta e viu Franz.

- Como, foi você, meu caro Franz, que levou a sua dedicação a este ponto? - perguntou.

- Não fui eu -respondeu Franz -, mas sim o nosso vizinho, o Sr. Conde de Monte-Cristo.

- Com a breca, Sr. Conde - disse alegremente Albert, endireitando a gravata e os punhos -, o senhor é um homem realmente precioso, e espero que me considere um seu devedor eternamente grato, primeiro pelo empréstimo da carruagem e depois por isto! - e estendeu a mão ao conde, que estremeceu no momento de lhe dar a sua, mas que mesmo assim não lha recusou.

O bandido olhava toda esta cena com ar estupefacto. Estava evidentemente habituado a ver os seus prisioneiros tremer diante dele, mas havia ali um cujo temperamento brincalhão não se alterara absolutamente nada. Quanto a Franz, estava encantado por Albert ter sustentado, mesmo perante um bandido, a honra nacional.

- Meu caro Albert - disse-lhe -, se se despachar, ainda teremos tempo de ir acabar a noite em casa de Torlonia.

Retomará o seu galope no ponto em que o interrompeu, de modo que não guardará nenhum rancor ao Sr. Luigi, que em todo este caso se comportou realmente como um cavalheiro.

- Ah, não há dúvida que tem razão! - concordou Albert.

- Poderemos lá estar antes das duas horas. Sr. Luigi - continuou -, há alguma formalidade a cumprir para se despedir de Vossa Excelência?

- Nenhuma, senhor - respondeu o bandido. - Está livre como o ar.

- Nesse caso, boa e alegre vida. Venham, senhores, venham! E Albert, seguido de Franz e do conde, desceu a escada e atravessou a grande sala quadrada. Todos os bandidos estavam de pé e de chapéu na mão.

- Peppino - disse o chefe -, dá-me o archote.

- Que vai fazer? - perguntou o conde.

- Acompanhá-los - respondeu o capitão. - É a mais pequena honra que posso prestar a Vossa Excelência.

E tomando o archote das mãos do pastor, caminhou adiante dos visitantes, não como um criado que se desempenha de uma tarefa servil, mas sim como um rei que precede embaixadores.

Chegado à porta, inclinou-se.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069