- Nada mais simples, senhor - respondeu o conde. - Conhecia o famoso Vampa há mais de dez anos. Muito novo, e quando era ainda pastor, dei-lhe um dia já não sei que moeda de ouro por me ter indicado o meu caminho, e ele deu-me, para nada me ficar a dever, um punhal esculpido por si e que o senhor deve ter visto na minha colecção de armas. Mais tarde, quer porque tivesse esquecido essa troca de presentes que deveria manter a amizade entre nós, quer porque me não tivesse reconhecido, tentou capturar-me, mas fui eu, muito pelo contrário, que o apanhei com uma dúzia dos seus homens. Podia entregá-lo à justiça romana, que é expedita e que agiria ainda mais depressa no seu caso, mas não o fiz; soltei-o a ele e aos seus.
- Com a condição de não pecarem mais - observou o jornalista, rindo. - Vejo com prazer que mantiveram escrupulosamente a sua palavra!...
- Não, senhor - respondeu Monte-Cristo. - Com a simples condição de que me respeitariam sempre, a mim e aos meus. Talvez o que lhes vou dizer lhes pareça estranho, senhores socialistas, progressistas e humanitários, mas nunca me preocupo com o meu próximo nem tento proteger a sociedade, que me não protege, e direi mesmo mais, que geralmente só se preocupa comigo para me prejudicar. Por isso, arredando-os da minha estima e mantendo a neutralidade em relação a eles, é ainda a sociedade e o meu próximo que me devem retribuição.
- Até que enfim! - exclamou Château-Renaud. - Aqui está o primeiro homem corajoso que ouço pregar leal e brutalmente o egoísmo. É muito belo isso! Bravo, Sr. Conde!